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Voando alto, na mesma vassoura & com amor

Quem chegar até o final desse texto sem sacrifício está em um caminho de amor, cura e intensidade sem volta e sem fim. O meu Dia da Mulher foi agitado e o que você lerá a seguir foi escrito ontem, mas só hoje foi possível revisar, publicar e enviar. Sabemos bem a dor e a delícia que é ter multitarefas e ainda por cima ser feliz, equilibrada e bem cuidada. Pois é sobre isso que precisamos refletir neste março de 2022. E para sempre. Todos os dias da vida, se necessário for. Vem!

“Aquela mulher é completamente louca!” “Mas que homem ousado, destemido e atrevido.” Ser “louca” é o disfarce e recurso mais divertido e possível que temos à mão. “Meu Deus, mas ela não cala a boca um minuto! Fala baixo! Baixa o volume!”. Sim. Berramos com frequência, já que há séculos nossa voz não é ouvida. “Como é articulado e falante esse rapaz, não? Desinibido e decidido assim, ele tem tudo para vencer na vida”, ou “Esse cara não tem vigor, pulso, fala mansinho, é muito delicado.”

“Até quando vais te vestir assim, essa roupa não está um pouco inadequada para a tua idade?.” Se a idade e o corpo são meus, será que não sou eu quem deveria decidir o que é adequado ou não? “Que maravilha, quanto mais velho mais charmoso, nada como um guarda-roupa moderno e uma aparência jovial para tirar a sisudez do homem maduro”; “Hummm, passa uma segurança, né? Homem feito e com aparência descontraída…”

“Barriga de fora e cabelo comprido não dá depois de uma idade, né?” Será? Será mesmo que o cabelo tinha que ser tão importante assim para definir uma pessoa? E quem é careca, como é que fica? E a barriga, gente? Os caras podem desfilar aquelas panças imensas e criminosas para a saúde, repletas de maus hábitos na nossa cara e tudo certo? Esse critério é estético ou é o que hein? Ás vezes fico confusa sabe… Devo ser faísca atrasada mesmo, ou lenta… randômica… adoram nos definir, já perceberam? O que me instiga é que se nem nós mesmas temos conseguido essa façanha… Quem ousa a pensar que vai?

“Que risada mais escandalosa dessa mulher”, “Como é gostoso ver um homem descontraído, sorridente, bem-humorado, leve e alegre”. “Ela é galinha, rodada, anda com um homem por semana, não vai casar nunca. Que horror! Não vai ter filhos.” “Esse cara sabe curtir a vida, é jovem, bonito, ou passou a vida toda casado, tem mais que se divertir e pegar todas que dão em cima”; “Fecha as pernas! Senta direito! Tenha compostura! Tu tens que ser mais discreta”; Pára de dançar como uma louca!!!”; “Só pode querer chamar atenção para sair assim”; “Nossa, que personalidade imponente tem esse homem, tem pegada, jeito de macho decidido que sabe o que quer.’ “Mulher é tudo histérica.” Ei, garotas, vamos parar de chamar de enigmáticos, pensativos, tímidos e misterioso homens mal educados e complicados emocionalmente que disfarçam suas inseguranças e traumas nos chamando de mandonas e problemáticas. Isso não é ser prático ou racional, é ser egoísta.

Não podemos mais reverberar essas vozes e nem permitir que o façam perto de nós. Eu mesma devo ter repetido até a semana passada que mulher é mil vezes mais chata e complicada do que homem. Não somos! Se generalizarmos, somos muito mais densas, argumentativas, sensíveis, atentas, corajosas, espontâneas, éticas, parceiras, intuitivas, profundas, cuidadoras, compreensivas. “Que mulher exibida… toda hora abiquinada mostrando o corpo no Instagram, só pode querer likes, elogios e arranjar homens”… Sim queridas e queridos, acertaram na mosca: queremos biquínis coloridos do tamanho que bem entendermos e não burcas pretas, queremos sim que nos elogiem e valorizem e não que nos julguem ou critiquem o formato do nosso corpo. Queremos sim, arranjar homens, mulheres e até papagaios que nos respeitem e nos dêem segurança, lealdade, alegria, prazer e escuta porque é exatamente isso que merecemos. “Ah, mas tá muito magra, só pode estar doente!”; “Meu Deus do céu… Como pode se expor assim acima do peso?.” “Toda arrumada só para mostrar que tem dinheiro viajando com o dólar nas alturas para se exibir”, “Mas é muito relaxada, sai com qualquer roupa, sem maquiagem, que mulher sem autoestima.” Repetimos também aos quatro ventos que fulanos comem fulanas e fulanas dão para todo mundo? Por que, gatas? Somos pizza para sermos comidas em fatias? Somos ONGs para “dar para todo mundo”???

Alguma de vocês nunca disse ou pensou nenhuma dessas frases prontas e clichês? Percebem como é ainda mais cansativo se nós mesmas continuarmos sendo as mais agressivas e ferinas soldadas das guerras íntimas e dolorosas que temos que enfrentar diariamente em nossos campos de batalhas particulares sendo mulheres em 2022?

Eu nos convoco a substituir essas expressões por verdades que nos transformem em mulheres mais fortes, naturais, respeitadas e verdadeiras juntas. Usando a arma mais poderosa do mundo: o amor. Se o machismo ainda estiver encrustado em nós, nosso feminismo será frágil e incompreendido sempre. Seremos sempre as bruxas fraquejadas que colocam fogo na própria fogueira para continuarmos sendo queimadas vivas? Se seguirmos repetindo crenças falidas e reverberando assim sobre outras mulheres, não conheceremos a paz e a igualdade nunca.

Não somos fáceis porque somos pobres, ou difíceis porque somos mimadas, desequilibradas ou ansiosas. Tampouco pensamos só em sapatos e esmaltes, senhor Procurador-Geral. Somos a expressão física e energética da graça, do altruísmo, do cuidado, da delicadeza, do poder criador e do olhar maternal que o mundo e as pessoas precisam.

Não adianta seguir idolatrando e homenageando a memória de Elzas, Leilas e Marielles se não deixamos de julgar, culpar e mutilar a nós mesmas. Evitando discussões, chorando escondido, fingindo orgasmos, deixando passar, ouvindo gritos, desaforos, trocando energia pesada dentro da própria casa, silêncios e deslealdades eternas e enlouquecedoras. Para que mesmo? “Estou pagando para não me incomodar” é outra expressão que fazia parte dessa coleção de equívocos machistas e estruturais que foram nossas últimas décadas. Eu sinceramente acho que já passou da hora de nós mulheres, começarmos a pagar para se incomodar, isso sim!!! “Bah, mas desse jeito vai espantar tudo que é homem, não casou até hoje, não vai casar nunca!” Se for esse o preço para voar alto e livre, queremos pagar cada centavo, né, mulherada?

Nossa vassoura é linda, veloz, coletiva, sensual, opinativa, divertida, criativa, interessada, interessante, compreensiva e imensa. Tem lugar para cada uma de nós, exatamente do jeito que nós somos. Demorou!

Com amor,

Mariana Bertolucci

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  1. Edu do Nascimento says:

    … Oi Mari… Alguns homens tem sorte na vida, graça a Deus sou um deles, fui criados rodeado pelo universo feminino… Meu pai Giba Giba sempre dizia uma frase “…uma companheira faz a gente crescer…” E eu digo “ande semore ao lado delas, nunca na frente, nunca atrás, do lado…”

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