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Rap in Cena: a noite em que o Hip Hop lotou o Pepsi

rap in cena zandrio

Fotos por Maurício Müller

Na última sexta-feira, 14 de junho, rolou o Rap in Cena — o maior evento de hip hop do sul do país. O evento aconteceu no Pepsi on Stage, com realização da TriRap, Olimpo Produções e Opinião Produtora, trazendo grandes nomes da cena hip hop nacional.

O primeiro grande destaque da noite foi, sem qualquer dúvida, o duelo de MC’s — Olimpo (RS) vs. Batalha do Tanque (RJ) — que fez a plateia ver o que queria: SAN-GUE! As batalhas foram acirradas, e todos os MC’s participantes mandaram muito bem no freestyle. Para a fase final, tivemos Jhony MC, do Rio de Janeiro, e Zandrio, representando o Sul. Apesar da rivalidade no palco, o respeito ao trabalho e talento do oponente eram visíveis nos cumprimentos e falas em intervalos dos duelos — inclusive, quando Jhony foi vaiado na fase final, Zandrio (vencedor) pediu respeito e repudiou o ato da plateia, “passei por isso fora de casa, no Nacional, e sei como me senti”.

Duelo: Jhony MC e Zandrio

Intercaladas entre as fases do duelo de MC’s, as atrações seguiram pesadas! Dona Maria MC agitou a casa representando as gurias do rap nacional com sua personalidade forte e provocativa (vamos gurias!), além das suas letras que falam sobre sua vivência e temática feminista. Com 11 anos de correria, o Fill, que é de Pelotas, também marcou presença no Rap in Cena, mostrando conhecer muito bem os palcos e com um flow de quem confia na mensagem que quer passar.

Ainda com a gurizada aqui do Sul, a Sauce Gang LOTOU o palco com todos os seus integrantes, fez a galera vibrar e anunciou: liberdade para Biro TK. Já o Cachola, que trouxe consigo sua banda, apresentou um conteúdo mais lírico para o público, envolvendo questões de injustiça social e questionamentos acerca do impacto da tecnologia na nova geração e como isso afeta os relacionamentos.

Com seu trap “Rockstar”, o Jovem Dex chamou atenção no evento, sua familiaridade com o palco é notável, além de ser muito aclamado pelos fãs. Num certo momento, parou o show e pediu para que sua produção o ajudasse a colocar três fãs cadeirantes ao seu lado no palco, onde ficaram até o final de sua apresentação — um show de empatia.

RAP-IN-CENA-MULLER-JOVEM-DEX
Jovem Dex

Pela primeira vez, pude assistir ao vivo a dupla ADL. Um flow incrível! Cantaram grandes sucessos, como “Imperador” e “Hipocrisia”, e, aos gritos de “favela vive!”, enlouqueceram a plateia, relembrando o real significado da sua luta até ali: da favela para o mundo, além da loucura, representando a gurizada no exterior, mas sem voltar para casa de mãos vazias. Depois do show, fizeram um apelo: “valorizem os seus rappers locais, pois são eles que falarão de vocês fora daqui”.

ADL - Rap in Cena
ADL

Chegando no pique, o carioca Filipe Ret encantou a plateia, que gritou alucinada ao vê-lo subir no palco. Com seu cabelo verde neon, que brilhava na luz negra da produção, fez o pessoal cantar junto do início ao fim da sua apresentação. Ao chamar Dfideliz, do coletivo Recayd Mob, para cantarem juntos o single “Sessão do Descarrego”, mais uma vez, arrancou gritos do público.

Dfideliz
Dfideliz

Mas quem realmente parou o Pepsi On Stage foi o Djonga! O Menino que Queria Ser Deus, o Ladrão, o Gustavo, emocionou a gurizada desde a expectativa da sua entrada até o final do seu show. Quebrando tudo, chegando no “Hat-Trick”, Djonga mostrou seriedade, maturidade e talento — o cara é indomável no palco. Carregando em suas letras fatos vividos e históricos, críticas ao racismo descarado e institucionalizado, assim como ao leque de situações vergonhosas no Brasil, o Rap in Cena todo cantou junto, sentado no chão, o sucesso “Olho de Tigre”, que traz trechos importantíssimos, como “quem tem minha cor é ladrão, quem tem a cor de Eric Clapton é cleptomaníaco. Na hora do julgamento, Deus é preto e brasileiro e, pra salvar o país, cristão e ex-militar que acha que mulher reunida é puteiro”. Djonga não precisava pedir para ninguém cantar junto, pois o Pepsi inteiro cantou todos os seus refrãos, inclusive aqueles que tiveram que ser cantados às pressas para não atrasar o roteiro do evento.

Djonga - Rap In Cena
Djonga

Apesar do horário elevado, Froid entrou no palco às 5h15 da manhã cantando sua nova mixtape O Homem Não Para Nunca, além de algumas músicas de álbuns anteriores. Segundo a fã Gyorgya Bacellar, que foi ao evento só para acompanhar os ídolos Froid e Cynthia Luz, o show dele foi muito emocionante. Em suas palavras, “O ao vivo dele é incrível, tem muita presença de palco”. E para finalizar, Cynthia Luz veio cantando hits da sua carreira e também com novidades do álbum Efeito Violeta, além de chamar Froid para participar dos duetos. Gyorgya complementa sobre o show: “estava um clima bem massa e o som estava incrível”.

Com esta edição do Rap in Cena, fica a expectativa de que, no próximo ano, possamos apreciar, mais uma vez, um evento deste porte, a valorização da cultura hip hop nacional. Temos grandes talentos locais que, em parceria com atrações de outros lugares do país, proporcionaram uma noite marcante para muitos fãs em Porto Alegre. Que esse movimento siga fortalecendo essas alianças e oportunizando que a nova geração consiga levar consigo a força transformadora que só o hip hop tem.

Não foi ao Rap in Cena ou quer conhecer grandes nomes do hip hop nacional? Então dá o play nessa playlist especial:

Por Karoline Oliveira

Categorias Bá Música
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