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O primeiro ano do resto de nossas vidas

Tudo indica que esse é o primeiro ano mais desafiador da minha vida. Quem tem mais ou menos a minha idade lembra do filme St. Elmos Bar que alçou para o estrelato Demi Moore e Rob Lowe (queria casar com ele), traduzido para o português O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas. Me sinto assim.

Iniciei 2021 assustada e impactada com o que acontecia ao meu redor (e não era pouca coisa) e também com o que encontrei dentro de mim depois de um ano em casa estudando yoga e arte na Dom School. Eu estava forte. Decidida a colocar o corpo e a cabeça para caminhar na rua e na vida de outra forma: com novas posturas físicas e emocionais, hábitos e motivações também diferentes. Embora ainda confuso, 2021 também foi se revelando generoso comigo. O primeiro aprendizado foi que conseguimos ABSOLUTAMENTE tudo o que desejamos na vida, desde que não nos falte ousadia para tentar.

Entendi mais do que eu já tinha certeza o quanto o amor transforma vidas e ações. Agradeci a sorte de ter amigas frágeis, fortes e amorosas. Percebi que estar perto de mulheres assim é o que faz nossa alma selvagem, materna e feminina proliferar zelo e cuidado pelas pessoas e pelo planeta. Estive mais perto da minha filha, mesmo que ela me chame de velha quase todos os dias e que eu ainda não tenha Tik Tok, me sinto cada vez mais jovem… Por dentro. Não se assustem…

Lembrei a dor e a delícia que é fazer comunicação e jornalismo com prazo, entrega, criatividade, desafio, sacrifício, adrenalina, doação e em equipe.  Estava com tanta saudade de cair de boca no hospício, que é a minha profissão, que nem eu sabia. Apesar de muitos acharem que é sinônimo de lixo, nunca esteve tão potente, afiada e em constante transformação. Senti orgulho das minhas cidades, Porto Alegre e Gramado. E ainda mais de servi-las com o meu dom: espalhando suas histórias, cultura e arte de qualidade e com propósito.

Conheci mais e mais pessoas e parceiras e parceiros de carreira, de trabalho, de yoga. Todos incríveis que me estenderam a mão e me ensinaram. Errei, repeti, pedi desculpas, chorei sem banho em cima da cama depois de trabalhar 15h, falei demais, agi demais, escrevi demais, me desesperei demais, criei de menos e pensei de menos… Parei de menstruar, não dei a menor bola, sigo morrendo de frio e se alguma amiga pergunta: “Mas tu não tá bem louca?” Eu respondo: “Na verdade eu não tô notando porque eu acho que eu já era…” Dei muita gargalhada também, ou nada teria valido a pena. Aprendi, aprendi, aprendi, aprendi… Percebi que posso estar cansada de muita coisa nessa vida (Eu tô viu? Mas não será hoje que vamos falar sobre isso… grrrrr), mas jamais cansarei de aprender. E a vida me presenteia sempre com os melhores e mais generosos professores.

Perdi minha última avó, e no seu leito de morte, horas antes, enquanto eu ainda respirava profundo e me despedia entre lágrimas e palavras do seu cheiro, ela serena e firme, como costumava ser, abriu os olhos e me pegou pela mão e levou junto um pedaço de mim que realmente não tem mais espaço por aqui: a menininha teimosa que passava base de qualquer jeito na frente do espelho e deixava um pedaço da perna em cada quina da casa. A adolescente dengosa que sofre sempre pelos mesmos motivos, que reclama que não tem oportunidades, que ninguém entende, que ela só quer ajudar e que se dedica demais para quem merece de menos, que não cala boca, que faz tanta pergunta que nem tem paciência para ouvir tanta resposta, que gasta energia desnecessária, que não sabe onde enfiar as ideias, os projetos, os amigos e as histórias porque está ao mesmo tempo em tantos lugares que não consegue ouvir uma voz tão essencial e necessária: a sua.

Então, eu e a minha menininha justiceira injustiçada (que vira e mexe me torra o saco… ela é uma chata gente..) chegamos ao final de 2021 e-s-g-u-a-l-e-p-a-d-a-s como diz a minha parceira Silvana Porto Correa, mas  agradecidas. A Antônia, que não por acaso, tem uma avó maravilhosa chamada Lina, é também muito nataLINA (infame?), lembrou recém-saída de uma Influenza que tinha que ajeitar a decoração no dia 24. Quando ela me convidou para montarmos a árvore das palavras eu respondi que esse ano a árvore seria diferente e as palavras iriam ficar atiradas na mesa junto com outros amuletos. Ela me olhou e disse: “Bá, mãe…” Eu devolvi: “Pára, vamos ter coragem de fazer as coisas de outro jeito, deixa as palavras aí…”. Não pensei que as coisas podiam ser tão diferentes assim. Amanhã inicio 2022 no quinto dia de isolamento porque estou positiva para Covid. Sem sintomas graves, cada dia menos medo, vou me arrumar, dar um jeito na casa, tomar Bisolvon, dançar sozinha e comer mesmo sem fome a melhor ceia do mundo que é da minha tia Aninha Comas. Além de rezar para tudo dar certo com as pessoas que tive contato, implorar para que vocês continuem se cuidando, usando máscaras e se vacinem contra os vírus e a falta de empatia. Não aglomerem, nem  o mundo e nem a pandemia vão acabar tão cedo.

Vem 2022!

Mariana Bertolucci  

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  1. Isabela Fogaça says:

    Mariana querida. 2021 foi bom pra nós duas que nos aproximamos mais. E isso já valeu o ano ( que aninho f…). Juntando cacos e palavras estamos entrando 2022 mais fortes. Com nossos sonhos e gana pra continuar a lutar por um mundo melhor. Teu texto como sempre um primor. De encher o coração. obrigada por nos proporcionar tua sensibilidade e inteligência já no 1. Dia de 2022!

    1. Ana Cristina Maisonnave says:

      Mari sempre autêntica! Que sorte a nossa que tu te expressas tanto e és tão falante! Tu és Mari Maravilha! Sincera, real, humana , como é bom te conhecer , o mundo é ótimo contigo! ♥️🙏🙌⭐️

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