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Eu sempre adorei a folia e as fantasias de Carnaval. Não tinha a disciplina e a técnica do balé clássico (que eu também amava), tampouco a imponência e o acabamento dos trajes e nem o frio na barriga antes de entrar no palco nas apresentações de final de ano da tia Lenita, minha professora amada que hoje está de aniversário.

Um jeito diferente e mais descontraído de encarnar um personagem e contar uma história cheia de liberdade e purpurina. Era como esperar o ano inteiro a festa da liberdade, como faz a turma da escola de samba, se preparando, ensaiando, economizando e esperando pelo maior espetáculo da terra. O mundo inteiro assiste, e a festa popular contagia.

Lembro das minhas primeiras fantasias e trajes com muito carinho, mas hoje falarei só das fantasias. A de índia com penas rosa-choque foi a primeira — eu era tão pequena que nem a parte de cima minha mãe colocou — e, depois, a de melindrosa, que é essa da foto acima. No tempo em que ainda passávamos o Carnaval em Gramado, nos bailes infantis da Sociedade Recreio Gramadense. Depois foi a Era Saba. Esperávamos o ano inteiro pelas quatro melhores noites do ano! E elas, de fato, nunca decepcionavam. Gatinha, coelha, copeira, bruxinha, enfermeira, freira, caçadora, boneca, fada, presidiária, palhaça, blocos com a turma da praia. Para cada uma das esperadas noites de folia tinha uma fantasia. O grand finale ainda era quando nossos pais deixavam que fôssemos passar a terça-feira e última noite de Carnaval em Torres, na Sapt.

Descobri o Carnaval da Bahia exatamente na época em que os pais da Fernanda Sica, uma das minhas melhores amigas, até hoje, tinham um apartamento na Pituba (ô, sorte). Nosso vizinho de prédio era ninguém mais ninguém menos do que Carlinhos Brown, acontecendo em uma Salvador de 1994. A sede da Timbalada era na frente do prédio. Não chegamos a interagir muito com ele, mas não preciso dizer que a vibe do Carnaval estava, mais uma vez, muito viva e contagiante entre nós.   

Já desfilei em escolas de Porto Alegre. Muitas vezes, na Sapucaí, cobri algumas como jornalista e assisti a outros tantos desfiles lá mesmo ou pela TV. É impactante a energia. Tem história, tem cultura, tem luta, tem equipe, tem vibração, música, dança, dor, alegria, fantasia, enredo, competição, energia de um monte de gente reunida e feliz. Tudo junto, passando na avenida, reluzente e belo aos nossos olhos — uma verdadeira catarse anual que envolve e agita pessoas de todos os tipos, cores e classes sociais na mesma e uníssona festa.

Então é por isso que, na minha faceira opinião foliã de admiradora, o Carnaval vai muito além do trio “samba, suor e cerveja”, nos revisitando todos os anos com liberdade e sapequice únicas — atrevido, vibrante e espontâneo! Não é preciso colocar a sandália de prata e correr para a bagunça para se divertir ou admirar o Carnaval. Se você não tem a menor paciência nem para bloquinho, avenida, trio elétrico, Sapucaí ou inventar fantasias, também não tem nenhum problema! Liberdade de escolha e até de espírito é lindo, transformador e tem a ver com todo o discurso livre e natural dessa época do ano. Então, querido leitor, esteja ou seja você, animado ou não neste Carnaval, não deixe que aquilo que não tem a mínima importância o impressione, choque, tire seu alto astral ou o deixe perplexo e irritado. A folia, a alegria, as purpurinas, a bunda, o peito, o brilho, o beijo, a celulite, a beleza, a feiura, o remelexo e a liberdade alheia não têm o poder de ofendê-lo. Não é pouca vergonha e nada tem a ver com política. Até porque, aí, o problema não está na imagem forte, agressiva, faceira, colorida ou abusada. Feio é sambar em cima do sofrimento alheio. O resto, meu amigo, é só Carnaval.

“Ninguém pode dizer nada sobre você. O que as pessoas estão dizendo é sobre si mesmos.” — Osho

Por Mariana Bertolucci

  1. Regina says:

    👏👏👏👏maravilhoso texto. Só mesmo tempo que estoria (estoriar) sobre a infância nos bailes infectos !apos lembranças de outros carnavais. Sandálias demorará não precisa. Basta esse talento Todo de remar no tempo d afinal ou grande finale se chama lição de vida. Parabéns Mariana !! Adorei. As outras crônicas lerei descansada assistindo ao carnaval na TV e senti feliz vom
    Lembranças e com a alegria alheia. Afinal afinal triste é rir da dor alhei. Adorei adorei. Parabéns 😘🎈👏👏👏👏👏

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