Cleomar Lima - uma alegria no céu

Nos últimos anos da década de 1990, eu era recém-formada em jornalismo trabalhava com o Marco Aurélio no setor de divulgação do jornal. O meu sonho dourado e de todas os focas que estavam nas vagas de jornalismo dos setores auxiliares era fazer parte da redação.

Foi o David Coimbra quem se arriscou nos primeiros convites. “Magrela, quer cuidar de uma página de crianças aos sábados? Inventar brincadeiras educativas e promoções e mandar cartinhas para os leitores?” Siiiiimm!!!! 

A Bela também ligava para o ramal e dizia: “Oi bruxa, a repórter tá doente, topa fazer o leilão de búfalos, hoje 22h, na Expointer? Não vai assinar nada, só ficar lá pegando o resultado, anotar e passar para o editor, mas é bom tu ir que já vai aprendendo”. Siiiimm!!! Sem muita animação para os búfalos. 

“Magrela, quer fazer uma matéria para a série sobre futebol de várzea de Porto Alegre?” Lá estava eu no Campo da Tuca. Foi essa matéria do futebol de várzea a minha primeira capa da ZH. 

A Zero Hora era o quinto jornal do país em circulação, o primeiro fora de SP e RJ. Rodava 200 mil exemplares e todo mundo lia a edição do domingo. Passei a semana seguinte em êxtase saboreando feliz aquela capa. Mesmo sabendo que não era exatamente a qualidade do meu texto, tampouco meu expertise em futebol de várzea os motivos da minha matéria ir para a capa e sim a imponência da série toda.

Mas não interessava, era minha primeira capa ao longo de 15 anos, e para mim ela foi muito mais marcante que o primeiro sutiã que eu não lembro nem da cor, mas acho que era bege.

Mal eu tinha saído ainda do impacto feliz daquela semana, no domingo seguinte pela manhã, a minha mãe me chama no quarto e diz: “A Zero não chegou ainda hoje, mas a tua vó ligou dizendo que tem um elogio para ti na Carta do Leitor, vai ali na esquina comprar uma para a gente”.

Enfiei qualquer roupa, escovei os dentes e saí correndo para comprar o jornal no armazém da esquina. Meu coração pulava do peito, enquanto eu estava na fila (hoje eu penso, mas que exagero, né?). Peguei o jornal e fui direto na página 2. Estava lá um elogio bem bonito e carinhoso para a minha primeira capa. O leitor e remetente se chamava Cleomar Lima.

Era a cara dele fazer isso. Ser essa pessoa que gostava de se dedicar às outras. De realçar o que as pessoas tinham de bom. Amigo dos amigos. Leal, presente, amoroso, efusivo. Incansável, exagerado nos sorrisos, nos gestos largos, nos braços faceiros, nos abraços apertados, no caminhar disposto.

Animado e feliz por si só. Aberto para uma boa conversa, pronto para qualquer programa. De riso fácil e frouxo, e um brilho no olho que extrapolava também na maneira de encarar a vida. Uma soltura de viver que deixava tudo mais divertido. Mais gostoso, mais real e mais vivo.

Ter tido a honra de crescer perto da tua alegria e intensidade, das tuas gargalhadas, dos teus incentivos, palavras de carinho e da tua vontade de viver foi uma felicidade grande para todos, que como eu, tiveram a sorte e a benção de desfrutar da tua presença de luz. Hoje, em casa há quatro meses, temendo esse mesmo vírus que te tirou da nossa convivência física, percebo Tio Cleomar querido, que você sempre viveu naturalmente sob os princípios da doutrina tântrica e talvez nem soubesse a benção que é ser assim. Estamos juntos na saudade que sentiremos de ti, mas também certos que neste domingo o céu acordou mais feliz.

Graça, Guigo, Rafa e Fe, minha amiga amada,

Um beijo no coração de vocês

Mariana Bertolucci

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  1. Livia says:

    Lindo texto e homenagem Mariana!
    Me junto a ti na solidariedade à família.
    Uma vida com humor é mais leve , perceber as qualidades de quem nos rodeia e elogiar faz um bem danado . Que aqueles que tiveram a sorte de conviver com Cleomar tenham consigo esta alegria e compartilhem por ai . Precisamos todos disso !

  2. Kátia T. Corrêa says:

    Mari, linda homenagem , o céu acordou mais alegre e os amigos mais tristes. Fica a lembrança viva desse amigo que espalhou alegria e sabedoria por onde passou. Bjs,Kátia.

  3. Mari! Que linda história! Que homenagem ao Cleomar! Eu era fã mesmo sem o “conhecer de verdade”, mas ele transparecia e irradia toda essa luz que descreveste. Sabia que era o pai da Fernanda, do Guigo, esposo da Graça e padrasto do Rafa e da Carol… mas o que mais me impressionava 😍(o vendo nos almoços de uma restaurante ali no Moinhos) era esse sorriso largo e cheio vida que ele trazia sempre escancarado no rosto! Um cara feliz! Meu pai o conheceu e o admirava muito tb! Perda imensa, mas com certeza a missão dele foi lindamente cumprida, despertou grandiosos e doces sentimentos em quem teve a sorte de cruzar o caminho dele. 🙏❤️

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