Mariana Bertolucci 27 anos de jornalismo, espacatos pandêmicos e outras histórias


Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio

Eu era estagiário em uma agência de marketing digital em 2018. A ilha de trabalho da minha mesa comportava quatro pessoas, e eu sentava de costas para a porta, ao lado da janela, no 16º andar do prédio comercial Corporate Station.

Na mesma ilha, à minha frente, trabalhava a Thaís. Ao lado dela, a Jenny, chefe do setor. E, à minha esquerda, ninguém, apesar da cadeira ociosa. “Sorte a minha”, pensei. Isso porque uma grande dificuldade com a qual tenho de conviver é a síndrome crônica do impostor. A cada conquista, surge um estranho sentimento de culpa. Sinto-me desonesto. Questiono quanto tempo resta para descobrirem que sou uma farsa.

Como você deve imaginar, era prazeroso pra mim ver a cadeira ao meu lado vazia. Ninguém podia me vigiar bem de perto, e a minha insegurança passaria despercebida. E ainda dava para deixar a minha bolsa na cadeira. Muito bom, né? Mas acabou rápido. 

Faziam pouquíssimos dias que eu começara o estágio — algo em torno de uma semana — quando comunicaram quem passaria a ocupar o lugar vazio. A nova colega de ilha seria a jornalista Mariana Bertolucci, que trabalhou 15 anos na redação do jornal Zero Hora. A fundadora e editora da Revista Bá

No dia em que a Mari foi pela primeira vez à agência, quando estava perto do horário de ela chegar, o tilintar da porta de vidro, que sempre anunciava a entrada de alguém, me causava um frio no estômago. A cada ruído, uma virada de pescoço para ver entrar mais um dos cerca de 40 colegas que trabalhavam na sala. Até que, finalmente, foi a vez de eu quase me virar inteiro para a porta e ver adentrar a Mariana.

Sorridente, apressada, expansiva, falante. Do jeito que todos que a conhecem são capazes de visualizar essa entrada. Ela, em voz volta: “oi, tudo bem? A bolsa é tua?” “Tu é jornalista também?” “Estuda onde? “Sabe como eu faço isso aqui no WhatsApp?” É aluno da Ângela Ravazzolo?”.

Eu, em pensamento: “o que ela quer, afinal? Será que quer descobrir a minha farsa, enquanto ainda dá tempo de me substituírem?” “Por que ela pergunta tanto?” “Por que fala tanto?” “Por que tá tão interessada em saber de tudo?

Quem conhece a Mariana e me lê até aqui deve estar se divertindo com a descrição do dia em que a conheci. Ela é exatamente assim: comunicativa, simpática, interessada, sociável, perguntadeira e empolgada. Qualidades que diferenciam os bons jornalistas dos medíocres. Características de uma excelente repórter e ótima contadora de histórias. E, acima de tudo, de um ser humano incomum.

A verdade é que quando conheci a Mariana Bertolucci fiquei desconfortável. Mas, em poucos dias, fui tragado pelo seu carisma, ficando à vontade e me deliciando com sua companhia. E a admirando. Quão verdadeira, transparente, espontânea e gente boa ela é. Por isso é uma pessoa tão querida por muitos.

Ler o livro de crônicas lançado recentemente, o “27 anos de jornalismo, espacatos pandêmicos & outras histórias”, é nadar com a Mariana em seu oceano de pensamentos e memórias. É beber em sua fonte e se embriagar nas opiniões, questionamentos e olhares dela para acontecimentos do mundo e do seu apartamento.

Embora os textos sejam em sua maioria de 2018 a 2022, alguns datam de 2011, 2012 e 2014. Através deles, acompanhamos registros de uma época incerta de confinamento pandêmico. Conhecemos um pouco da história dos familiares amados, como o avô que foi o primeiro prefeito de Gramado, os dindos exilados no Uruguai e o pai perplexo com a menina que falava pelos cotovelos.

Testemunhamos o seu amor e respeito pelo jornalismo. Sua sensibilidade para escrever textos divertidos e críticos. Seu orgulho de ser porto-alegrense e sua paixão pela cidade.

Somos apresentados a alguns colegas e parceiros de vida que ela conheceu durante os 15 anos de redação na Zero Hora, como o saudoso (e bem humorado) David Coimbra. Entendemos o quanto a escrita ajuda na organização da potência que são os seus pensamentos e as suas palavras, e como o yoga ensina sobre o silêncio como ferramenta de autoconhecimento e transformação interna para sermos pessoas melhores. Deparamo-nos com os desafios da maternidade, nas várias vezes em que ela cita a filha Antônia

Descobrimos quem são seus artistas preferidos. Um deles é Cazuza, que morreu no dia do aniversário da Mari, e para quem ela escreveu uma carta durante a pandemia do coronavírus. Outra é a Fernanda Young, para quem a Mariana dedicou um texto visceral no dia em que a Fernanda partiu.

Quando voltei a falar com a Mari para iniciarmos a coluna Bá Experiência, faltavam poucos dias para o lançamento do livro27 anos de jornalismo, espacatos pandêmicos 7 & outras histórias”. No lançamento, comprei o meu exemplar. Na dedicatória, para mim e meu marido Rodrigo Gruner, ela escreveu: “vamos juntos. Amor, paz e verdades.”

Devorei o livro em poucas semanas. Depois de um tempo, quero ler novamente. Por agora, ele vai ficar ali, na minha estante, acima do “A mão esquerda de vênus”, da Fernanda Young.

E sim, Mari, vamos juntos. Com amor, paz e verdades.

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No episódio desta semana do podcast Bá que papo conversamos sobre o “27 anos de jornalismo, espacatos pandêmicos e outras histórias” Acesse este link e ouça agora no Spotify.

Bá Experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio

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