Tem gente que olha para o meu terraço e diz: quanta planta! Deve dar trabalho para cuidar. Outras suspiram: três cães! Nossa, que função, passear, cuidar…

Sim, são escolhas e todas fazem sentido para mim. Mas preciso me envolver, gastar tempo, cuidar, adubar, plantar, molhar. Mas gosto de ver quando uma plantinha cresce. Provar uma couve, um tomate cereja ou um morango que eu plantei. A safra nunca é grande, mas é um prazer contribuir para que a natureza floresça à minha volta.

A mesma coisa os cães. São meus parceiros de vida, minha família multiespécie. Como não teria tempo de sair com eles, brincar, afofar, fazer tratamentos médicos quando necessário?

Sim, viver dá trabalho. Viver no piloto-automático sempre repetindo os mesmos padrões e escolhas, julgando as escolhas alheias é mais fácil. Melhor ainda é olhar para fora, culpar os outros, a família, o chefe, o governo, e seguir na mesma direção, supostamente querendo chegar a um lugar diferente. É como querer emagrecer e ter uma alimentação saudável, mas pegar na prateleira do supermercado alimentos que não contribuem para isso. Na cabeça de quem age assim, embora não confesse, o ideal seria terceirizar esse esforço e alcançar a meta de perder peso.

É bom reclamar, esbravejar: eu quero ter uma vida mais leve! Quero mudar! Mas na prática esse pensamento combina com a sua ação? Sou coerente com esse mantra que criei? A nossa criança interna quer soluções mágicas, isso é certo. Mas é porque na infância pensamos assim: algo que vai acontecer e nos salvar. Nessa fase não temos força e nem recursos para mudar nada. Precisamos reconhecer quando a criança aflora e fazer o nosso adulto se responsabilizar e agir.

A boa notícia é que as viradas de chave acontecem quando assumimos que somos co-criadores de todas as nossas alegrias e desafios, e partimos para a fase do comprometimento pessoal. É vida de adulto e o processo envolve marés cheias e baixas. Para segurar a onda não raro precisamos de ajuda externa. E pode ter certeza de que dá trabalho, sim, viver mais consciente. Mas a incerteza de andar no escuro acredito que seja bem pior.

Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestra em rakiram

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