Ter uma coluna assinada na Revista Bá, satisfação de materializar mais um projeto. A semana passou correndo e a primeira crônica foi criada sem dificuldade. Simplesmente, sentei e escrevi, sem dramas. Esperei um pouco e reli, como indicava meu mestre de oficinas literárias Luiz Antonio de Assis Brasil. Ele dizia: escreva e leia no dia seguinte porque as letras vão se acomodando. Segui a dica.

Texto publicado, começo a receber feedbacks dos primeiros leitores. Até que uma amiga mandou no whatsapp a mensagem: não seria a Bela Adormecida que dormia encantada e não a Cinderela como está no texto? 

Na hora gelei. Puxa, logo na primeira crônica um erro. Era de noite, tentei falar com a Mariana Bertolucci, editora da revista, mas sem sucesso e deixei recado. Daí pensei: ok, essa hora pouca gente vai ler e amanhã a confusão será desfeita. O pensamento me tranquilizou e não perdi o sono. Em outros tempos, sofreria mais. Mas com o passar dos anos percebi que não tenho um pacto com a perfeição. Prefiro fazer e arriscar o erro. Porque isso acontece com quem se movimenta pela vida.

A técnica do Rakiram tem uma parte terapêutica bem importante na qual acolhemos o que o cliente traz, suas dificuldades, traumas, medos, repetições. Nestes quase 20 anos de trabalho ouvi muitos relatos de pessoas em que o medo de errar é tanto que elas simplesmente paralisam. Desistem antes de colocar em prática uma ideia, um projeto, um relacionamento. Em geral, quando esse cliente começa a contar sua história aparece uma educação rígida, na qual a criança foi muito exigida por pais críticos. Talvez com uma intenção boa, que o filho se esforçasse, mas a mensagem que acaba registrada é “não sou bom ou boa o suficiente”. 

Essa tensão é arrastada para a vida adulta. E não inventaram ainda um remédio milagroso que apague as vozes negativas internas. Durante o processo terapêutico do Rakiram essas emoções começam a surgir nas conversas antes da aplicação da sessão. A limpeza do campo sutil é como uma faxina. Uma abertura de janelas que possibilita a entrada de um ar fresco que auxilia a aflorar insights e a soltar aquilo que não nos ajuda. É como a caminhada de Santiago de Compostela. Precisamos ter na bagagem estritamente o que podemos carregar e o que facilitará o trajeto. Assim, seguimos mais leves. Se a gente completar o percurso é um bônus. Por que o importante, no final das contas, não é desfrutar o caminho, aprender, criar boas memórias e se divertir?

Afinal, duvido que a Cinderela com aquela pele ótima não tirasse boas sonecas. Talvez não tenha descansado por cem anos, claro. Mas que dormiu, dormiu. O pai dela também é um exemplo de alguém que errou o alvo quando casou com uma pessoa tão materialista como aquela madrasta. Cada um com suas escolhas, mas ela não era fácil! E o rei, pai da Bela Adormecida, que esqueceu de convidar uma das fadas (ou bruxa para alguns) para o batizado da filha? Uma gafe que gerou insatisfação da excluída e a maldição que colocou todos para dormir. 

Então, fique tranquilo. Não perca seu sono. Todo mundo erra. Só tente cometer erros novos. Porque os antigos aí é um caso de repetição, assunto que pode virar tema de outra crônica. Não esqueça de acrescentar nessa receita mágica a possibilidade de rir de si mesmo. Pode ser que o erro se transforme em piada entre os íntimos ou compartilhado, como agora. O essencial é que não seja um obstáculo para seguir em frente.  

Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram

Arte Liège Alves sobre foto Robin-Schreiner

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