Pobres Criaturas

Abordar o feminismo para mim, enquanto homem, é sempre nebuloso. Há, inclusive, uma vertente de mulheres feministas que defende não ser um espaço adequado nem aberto a nós, do gênero masculino, entrar nessa conversa.

Mais uma vez, porém, o assunto da coluna Bá experiência, inevitavelmente, tem uma intersecção com esse tema (ano passado ocorreu o mesmo, quando escrevi o texto Antimachista, o meu lugar de fala).  

Isso porque, ao citar Pobres Criaturas, indicado, dentre outras categorias, a melhor filme no Oscar 2024, é impossível não incluir o debate em torno do feminismo. Adaptado do romance homônimo de Alasdair Gray, de 1992, o longa-metragem conta a jornada de Bella Baxter (Emma Stone), a mulher criada por um cientista a partir do cérebro de um feto ainda não nascido e o corpo da gestante, que havia morrido. 

Sobre a reflexão? Bem, já começa quando questiono a legitimidade do título de feminista um filme cujo roteiro (Tony McNamara) e direção (Yorgos Lanthimos) pertencem a homens. Também me pergunto: se tivesse sido dirigido por uma mulher, a receptividade da crítica teria sido a mesma? E mais: a estreia em fevereiro, próximo ao Dia Internacional da Mulher, seria justamente para entrar na esteira das discussões sobre igualdade entre homens e mulheres? 

Ao mesmo tempo que, para mim, essa crítica metafórica — que expõe a toxicidade do homem em relação à liberdade da mulher — ter sido dirigida por mentes masculinas parece algo positivo. Paradoxal, não? Enfim. São muitas as nuances.

Embora essa problemática sobre o feminismo e o seu lugar de fala, espero que Pobres Criaturas consiga chegar a mentes masculinas de inteligência mediana capazes de entender: os homens que cruzaram o caminho da Bella desejavam mantê-la sob seu domínio. E isso é uma caricatura da masculinidade impositiva e autoritária herdada, ainda, pelo patriarcado. 

No mais, deixo aqui os meus mais sinceros desejos de que Emma Stone leve a estatueta de melhor atriz; e a minha mais profunda esperança de que todos do público masculino façam o mínimo após assistir a Pobres Criaturas: reflitam.

Esta semana, no podcast Bá que papo, trouxemos nossa cinéfila oficial, a Gabriela Beck, para falar sobre todos os indicados na categoria de melhor filme no Oscar 2024. Ouça agora no Spotify clicando aqui.

Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.

Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio

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