Manoel Carlos

Futilidades, dramas da classe média e da burguesia carioca, diálogos triviais. Um universo distante da realidade da maioria dos brasileiros. Com narrativas que refletem uma sociedade racista, elitista e machista. 

Quantos adjetivos nada gentis há no imaginário coletivo em torno da obra de Manoel Carlos? Eu, adorador de um bom drama de Helena, me incluo nessa. “Adoro as novelas do Maneco, mas né, são cheias de preconceitos, era outra época”. Quase sempre um adendo para justificar o meu gosto.

É, afinal, correto associar tanta coisa negativa às obras do Maneco? Talvez. No entanto, após assistir ao documentário Tributo – Manoel Carlos, percebi o quão simplista seria se reduzíssemos toda a obra dele ao “cafezinho, dona Helena?”.

Quem assistiu Camila (Carolina Dieckmann) tendo o cabelo raspado por conta da quimioterapia e não sentiu um nó na garganta, por exemplo, assistiu errado. (Laços de Família, 2000). Assim como quem não achava agoniante ver Dóris (Regiane Alves) maltratando os avós; e quem não se chocava com Raquel (Helena Ranaldi) em cenas pesadas de violência doméstica, só pode ser agressor também, ou psicopata. (Mulheres Apaixonadas, 2003). 

Essas crônicas sociais não só emocionaram. Elas também refletiram em nós enquanto sociedade.

Segundo o site Memória Globo, o drama da Camila, que sofria de leucemia, provocou um aumento significativo no número de doadores de sangue, órgãos e medula óssea. Após o capítulo final da novela, o Instituto Nacional do Câncer registrou 149 novos cadastros em algumas semanas. A média, antes, era de dez por mês. A história de Flora (Carmem Silva) e Leopoldo (Oswaldo Louzada), avós da Dóris, culminou na criação do Estatuto do Idoso. E, após a denúncia feita por Raquel na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), a unidade do Centro do Rio de Janeiro registrou um aumento de mais de 40% no número de denúncias de casos de violência doméstica sofridos por mulheres

Os temas que citei são algumas dentre tantas outras pautas abordadas, como Síndrome de Down, homossexualidade, câncer de mama e até etarismo feminino, se lembrarmos que a Helena de Vera Fischer “escandalizou” ao namorar um rapaz anos mais jovem. 

De fato, nem de longe, as novelas dele foram perfeitas no quesito papel social. Mas não podemos deixar de reconhecer que houve, também, o legado positivo. Um presente de Maneco.

Nesta semana, no podcast Bá que papo, depois de assistir ao documentário Tributo – Manoel Carlos, convidamos a Larissa Martins, do canal Coisas de TV, para conversar sobre as Helenas, as novelas, os clássicos, a influência e o legado do Maneco para a televisão brasileira. Ouça agora no Spotify clicando aqui.

Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.

Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio

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