“Meu trabalho tem glamour, mas é também muito duro”, diz Hori, do NY 72

Táxi NY72

Sabe aqueles seres humanos que têm uma história bonita para contar, e a gente percebe logo na primeira conversa? Pois o Horizonte Venzon é um desses caras. Nasceu e cresceu em uma família de nove irmãos, Sônia, Solange e sete homens com h, como canta Ney Matogrosso: Horizonte, Hamilton, Hélio, Hilton, Hércules, Humberto.

Do pai, gaúcho de Nova Prata, herdou a veia empreendedora. Da mãe, catarinense de origem russa, doceira de mão cheia, herdou o dom e o gosto para a gastronomia. O irmão caçula, que já faleceu, era o dono do saudoso Bar do Beto, point da beira da praia de Imbé.

E foi “no” Imbé (como dizemos por aqui) que a história bonita começou a inspirar o empresário. A mãe era um aço para o trabalho e uma fera na culinária. Telma Spritz Venzon, além de cuidar da volumosa prole, esteve durante décadas à frente da Confeitaria Vovó Telma, parada obrigatória no veraneio. Hori sempre gostou de estar em volta da mãe e ajudar na cozinha.

Queria fazer arquitetura, mas precisava trabalhar, não tinha tempo para estudar e nem dinheiro para pagar faculdade particular. Escolheu educação física e formou-se na UFRGS em 1985. Trabalhou como assistente do irmão Hércules, que era preparador técnico do Inter. Dois anos depois, desta vez com o irmão Hilton, começou a produzir doces que eram vendidos na rede Zaffari.

Quando a sociedade acabou, em 1994, o irmão ficou com a fábrica de doces, e ele seguiu sozinho na Confeitaria H Venzon, já na casinha de tijolos da rua Nova York, número 72, em Porto Alegre.

“Sempre fui exigente, trabalhador, disciplinado e cuidadoso. Não sei se por necessidade, por não ter, eu cuidava do que eu tinha”, explica o gestor. Ele soube aproveitar cada uma das oportunidades e das ideias que foram surgindo para transformar o seu negócio ao longo dos últimos 30 anos. “Fui aprendendo na vontade e no desejo de fazer as coisas”.

Ele não queria abrir à noite, mas a insistência da clientela foi tanta que, lá pelo final de 1995, nascia um dos bares mais bacanas de Porto Alegre, o NY 72. Naturalmente, Hori foi comprando e colecionando relíquias e objetos temáticos. Aos poucos, o bar foi se enchendo da alma e do estilo da cidade norte-americana mais visitada do mundo.

Nas paredes, John Lennon, placas com os nomes dos bairros, retratos e referências à Broadway, ao Central Park ou à Estátua da Liberdade. Com uma bela caixa registradora antiga e repleto de informação e estilo, o pub, que é a cara de Nova York, não demorou a cair no gosto dos porto-alegrenses e a virar xodó de várias tribos e turmas descoladas.

NY 72
NY 72.

Almoço executivo honesto e delicioso de dia e agito e música à noite, o premiado estabelecimento já tem 23 anos de sucesso. Quase a idade dos gêmeos Artur e Pedro, 22 anos, que hoje ajudam o pai a seguir fazendo o que gosta.

Educado e atencioso, ele conversa com a clientela, ajuda a servir, está sempre de olho em todos os detalhes. As terças são as noites do pagode da Showdi, quarta-feira é dia de sertanejo. Quem gosta de música eletrônica aparece às quintas, e sexta é dia de pop rock.

Em 2007, o empresário ocupou todo o terreno e fez sua última ampliação, que deixou a casa maior. O inquieto empreendedor apostou em uma estilosa galeria de arte em 2009 sob a batuta do sobrinho, o talentoso artista plástico André Venzon, e uma casa de eventos retrô e cheia de graça. Sob os cuidados do chef Chaparro, o restaurante contemporâneo 72 In funcionou desde 2012 até há pouco. Acaba de dar lugar ao recém-inaugurado Dry.

“Sou o melhor ajudante que ele já teve, e teremos outras parcerias”, conta Hori, referindo-se ao chef argentino, que já dividiu caçarolas com Francis Mallman.

O estilo colorido e pop atravessou a 24 de Outubro e também está na rua vizinha, a Maryland, onde em 2013 nasceu a Love It, loja de decoração e peças bacanas de design assinadas e uma lindeza de cafeteria e confeitaria na parte de trás, que também abre para eventos. No café, Hori tem outros sócios e conta com a valiosa ajuda da mulher, Lia Jardim Rodrigues. Sobre os 30 anos dessa bonita história, o querido Horizonte finaliza bem ao seu modo, cheio de humildade:

“Não esperava da vida tudo o que ela me proporcionou. Eu era um professor de educação física e sonhava em ter uma vida simples. Só posso ser grato. Meu trabalho tem glamour, mas é também muito duro.” Nós sabemos e adoramos, Hori!

Por Mariana Bertolucci
Fotos: Mário Leão

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