A memória da infância em Estrela do Sul, cidade mineira que espocava foguetes a cada diamante descoberto, ainda tem o encanto das visitas à bisavó e das brincadeiras da infância: “Foi linda apesar de perder minha mãe aos 7 anos. Aprendi que a tristeza faz parte da vida e guardo boas lembranças”. Foi assim que a maturidade visitou cedo Wilma Resende Araujo Santos: “Entristecer é como guardar a alegria numa gaveta da alma, para uma hora reencontrar.” Nossos olhos se encontraram emocionados. Eu, por estar diante de alguém tão sublimemente moldada às surpresas da vida, e ela, por relembrar tanta doçura. Aos 15 anos, foi estudar em São Paulo, e quando a irmã casou-se em Porto Alegre, apaixonou-se pela capital dos gaúchos. “As pessoas interessantes, tudo um charme, as mulheres elengantíssimas” – recorda.

Decidiu trabalhar e candidatou-se para uma vaga para assumir a parte cultural e social do Cultural Norte-Americano. Numa excursão guiada por ela conheceu o empresário Fabio Araujo Santos e não mais se separaram. Das muitas histórias juntos, uma é a cara dele: “Comemorávamos com amigos o aniversário dele, quando ele pediu licença e foi assistir ao noticioso. Tinha interesse pelo todo”. Quando apenas a cumplicidade e as conversas com o Fabio e a educação de sete filhos era o foco de sua atenção, a vida novamente lhe exige que abra com delicadeza sua gaveta da alegria, para ali guardá-la de novo por mais algum tempo. Um acidente aéreo tirou a vida do marido, que era um importante líder empresarial do estado, à frente da JH Santos. Enquanto a emoção invade a nossa conversa, ela contou sobre os planos de ir a França quando os filhos crescessem e o sonho do marido de envelhecer em uma quinta portuguesa. Noutra gaveta, essa de verdade, da mesa de trabalho do marido, ela encontrou recortes sobre as quintas da França, que ele juntava: “Ali meus meus filhos se uniram e me cuidaram. Vinha deles a minha força.”

Nos 10 anos seguintes esteve a frente do Conselho e Administração da JH Santos. Cumprida a missão, quando arrumava as próprias gavetas, foi convidada a implantar a Junior Achievement no Brasil e os planos de dedicar-se à “profissão de avó” estavam adiados. A Junior Achievement é um programa que incentiva o empreendedorismo em crianças e adolescentes. Nas últimas décadas seu trabalhou impressionou tanto que deixou boquiabertos 16 CEOS das maiores empresas do mundo no Hotel Roosevelt, em Nova York.

Nessa surpreendente gaveta de Wilma, somam-se centenas de cases de sucesso e estatísticas. Foram formados e treinados mais 3 milhões de jovens, com a participação de mais de 120 mil voluntários. Feliz vendo os projetos evoluírem em mãos de uma competente equipe e os netos crescerem mais de perto, ela foi diminuindo lentamente o ritmo de trabalho: “Mas ainda há o que fazer. O envolvimentos dos empresários é fundamental. Tem que ter coragem para correr riscos, passar bons valores.” Isso tem de sobra na gaveta de Dona Wilma.

Mariana Bertolucci

Foto: Isadora Bertolucci

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