Não sou do tipo que revela a idade facilmente. Agora que fiz aniversário a pergunta sempre aparece e a resposta é o silêncio ou 28 anos. Pode ser vaidade? Talvez. Olhando por este lado tenho antecedentes familiares que me incriminam. Minha avó, aos 80, usava um creme chamado Segundo Debut. Quando foi para o hospital, do qual não voltou com vida, levou uma frasqueira cheia de potes e cosméticos. Ela mentia a idade. Declarava uns dois anos a menos que as amigas que classificava como beeem mais velhas. 

Mas, na verdade, não é por isso que não gosto de falar de idade. É mais porque me recuso a ser classificada. E normalmente é o que acontece quando a gente diz quantos anos temos. Quem pergunta já está querendo nos encaixar em uma categoria. A pessoa já pensa e vai julgando: ah…está em tal fase… Por isso está assim… Agora resta se aposentar. Ou então: não é adequado isso que está querendo fazer agora. Se fosse em outro momento…

Uma amiga uma vez me deu uma sentença: depois dos 40 anos o limite do cabelo é o ombro! Será que tem limite para isso? E eu lá sou mulher de seguir regras? Nunca fui. Faço as minhas desde sempre. Convenções? Estou fora. Não contem comigo para atitudes padrões ou esperadas em cada faixa etária.

Eu mesma me surpreendo comigo e com minhas vontades. Como se diria lá na minha terra, em Caçapava do Sul, não me “mixo” para qualquer desafio. Posso demorar um pouco, mas avanço.

Eu acredito que ser humano em geral é assim. Somos multifacetados. Soma do que viemos aprender neste planeta, crenças, medos, padrões herdados, genética. Que aliás, nesse último quesito tenho uma régua alta. Um avô que aos 90 dirigia e fazia seu imposto de renda, corria para ajudar a todos. Uma tia que agora aos 93 anos pilota seu carro ainda, escreve toda semana sua crônica para um jornal semanal. Isso para citar dois exemplos. Tenho outros.

Claro que não podemos ignorar que existem limites biológicos. Nosso corpo tem um tempo, se deteriora. Mesmo dentro dessa realidade, a idade do organismo também pode ser diferente da cronológica, conforme tratamos essa máquina maravilhosa durante nossa jornada e da genética.

Lembro da época em que começaram a aparecer aqueles programinhas de fazer avatar. Meu afilhado fez de toda família. O meu nunca conseguiu. Difícil resumir as pessoas em um estereótipo. Tem jovem com cabeça velha e pessoas com idade mais avançada que estão despertos, cheios de curiosidade pela vida. Minha mãe ia até a esquina e voltava contando mil coisas. Tem gente que vai até o outro lado do mundo e não vê nada. Fica comparando tudo que vê com sua rotina. Ou seja: não saiu de casa!

Por isso e tantas outras coisas que poderia falar, ouso aconselhar: não olhem para as pessoas como se estivessem em uma prova objetiva, aquela de marcar cruzinhas. Os seres humanos estão mais para escolhas subjetivas, múltiplas e algumas nem constam no cardápio das opções de resposta. É o que nos apetece que nos move e nos dá brilho no olho. Até o fim.

Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram

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