Drag Race Brasil

Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio

Sororidade, segundo a Academia Brasileira de Letras, é o sentimento de irmandade, empatia, solidariedade e união entre as mulheres. A consciência em comum por elas compartilharem uma identidade de gênero, uma conduta, uma atitude que reflete este sentimento, especialmente em oposição a todas as formas de exclusão, opressão e violência.

Podemos afirmar, portanto, que sororidade é uma aliança entre as mulheres

Conforme a jornalista Nathália Geraldo publicou neste texto do Universa Uol, sororidade pressupõe deixar de lado a rivalidade feminina — algo visto culturalmente, segundo ela, como característica das relações entre mulheres — para se estabelecer apoio mútuo e saudável.

A palavra sororidade, segundo o dicionário online Dicio, deriva da junção da palavra de origem latina ‘soror,oris’, com o sentido de irmã, e do sufixo nominal “-dade”, também latino, que designa uma qualidade ou estado. Ou seja, sororidade, na origem, significa “condição ou qualidade de irmã”.

Tá, e o que eu, homem, e o Drag Race Brasil temos a ver com isso? Nada, afinal, este debate pertence, obviamente, exclusivamente às mulheres. Mas o que nós, da comunidade LGBTQIA+, podemos aprender com esse conceito de união?

A final da primeira temporada da tão aguardada franquia brasileira do reality Drag Race foi agridoce. E não é sobre o resultado, que aliás, foi merecidíssimo. O que nenhuma pessoa merece, porém, é ser atacada, ofendida, desmerecida. Foi isso que aconteceu com a vencedora Organzza e com outras drags queens participantes. Não se trata de homofobia. Trata-se de uma violência da própria audiência do programa, através das torcidas na internet, formadas, em sua maioria, por homens gays.

Pensou ser exagero esse recorte de torcida nas redes sociais em reality show? Infelizmente, a falta de fraternidade entre o público gay masculino é uma realidade que observo desde que me conheço por gente.

Não é preciso um grande esforço cognitivo para entender que a vida de quem é da comunidade LGBTQUIA+ é uma vida de opressão. Certo? Somos oprimidos de forma recorrente, para muitos desde criança, inclusive. E, como diz Paulo Freire, “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Será que é o caso da comunidade gay? Por que não nos unimos por um sentimento de irmandade, empatia e solidariedade, tal como ensina a sororidade?

Este ano, conheci um time de vôlei amador voltado para o público LGBT. Frequentei por alguns meses e resolvi não ir mais, por ter criado a expectativa de encontrar um ambiente acolhedor e fraterno, e não me deparar com outra realidade. Nada ligado a mim diretamente, e tem pessoas incríveis lá. Mas tem também aqueles dispostos a falar mal, a criar panelinhas e a hostilizar. E não é aquela adrenalina do jogo somente. Foram comportamentos dentro e fora de quadra.

Não digo que nunca irei retornar, mas me deixou pensativo. Não deveríamos apoiar uns aos outros e torcer uns pelos outros; em vez de criarmos e alimentarmos rivalidades?. Quem ganha e quem perde com desunião? E mesmo respondo. Ganham aqueles que nos odeiam. Perdemos nós.

Eu gostaria de ver uma próxima edição de Drag Race Brasil com sentimento de felicidade por todas que estão lá. Uma união tanto entre as torcidas quanto entre as drags participantes. A gente sabe quando um shade é uma parte da performance e quando é pessoal.

Também gostaria que nós aprendêssemos mais com a sororidade com um sentimento que também pudesse pressupor deixar de lado nossa rivalidade gay, que sim, é culturalmente uma característica das relações dentro da própria comunidade, que é muito tolerante consigo mesma.

Há muitos que não toleram afeminados. Velhos. Gordos. Pretos. Corpos fora do padrão. Quando precisamos de apoio mútuo e saudável. Hoje era esse o recado que queria deixar para vocês, meus irmãos.

No podcast Bá que papo desta semana, tivemos o prazer de receber o escritor Tobias Carvalho para conversar sobre a grande final do Drag Race Brasil, o seu processo criativo e os três livros escritose lançados!

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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio

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