Ana Hickmann, mulher do Brasil

Na década de 1990, Ana Lúcia era uma menina como tantas outras que estudava e jogava vôlei em seu colégio, em Santa Cruz do Sul. Ela se destacava porque era, já naquela época, muito alta. Era o que mais me chamava a atenção quando nossos times duelavam. Eram jogos quentes!

Corta para alguns anos depois e Ana Hickmann explode no Brasil e no mundo como uma supermodelo. Linda.Talentosa. Ana conquistou sucesso em um mundo no qual muitas meninas de Santa Cruz tentaram. Ela se sobressaiu e consolidou sua carreira internacional. Com a transição das passarelas à televisão, Ana entrou na casa de milhões de brasileiros diariamente.

Era estranho, confesso, olhar para a Ana e lembrar que ela esteve, anos atrás, do lado oposto da quadra de vôlei em que jogávamos, cada uma por seu colégio. Tão pertinho! Tão normal! 

Normal… Não sei o quanto de normalidade tem a vida da Ana hoje. Mas uma coisa em comum com milhões de mulheres brasileiras ela tem, infelizmente: foi vítima de violência doméstica. No Brasil 35 mulheres são agredidas a cada minuto. No Rio Grande do Sul a cada 22 minutosuma mulher é vítima de algum tipo de violência. 

O impressionante é o padrão dos agressores: negam e tentam tirar a credibilidade da mulher vítima da agressão ou da violência. A culpa, claro, é da mulher. Ela mente. Ela quer se vingar. Ela exagera. Ela é violentada psicologicamente quando publiciza, quando denuncia, quando cala. 

Para que uma mulher seja agredida, basta existir. Não há uma condição que a proteja disso. Ela pode ser a Ana Hickmann, a Flávia, a Mariana, a Xuxa, a Paula, a Fernanda, a Larissa… ela pode ser você.

Por isso que é tão importante todas nós denunciarmos. Dói? Bastante. O ambiente de uma delegacia é hostil; denunciar alguém é difícil; se expor é violento. Mas somente assim a gente muda a realidade. E ela precisa ser mudada. 

Quando eu fui vítima de assédio sexual, denunciei. Uma mulher mentiu para a polícia em seu testemunho. Ela é mãe de uma jovem mulher. O que ela não sabe é que essa mentira pode, em pouco tempo, colaborar para que filha dela seja a próxima vítima. Eu não desejo isso a ninguém. Eu desejo justiça, sempre. Embora não creia nas leis atuais, que protegem assediadores e agressores contumazes e que não protegem nem mesmo as mulheres com medidas protetivas. 

Por enquanto, nossa maior arma é nossa voz. Então, fale, denuncie. E você, que nunca foi vítima, não duvide e não questione quem denuncia. Quando você faz isso, você está aumentando a dor da vítima. Vítima que pode ser qualquer uma de nós, a qualquer momento.

Flávia Moreira, jornalista

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