cronica sobre ignorância - mariana bertolucci

Alguém me disse uma frase que não sai da minha cabeça há vários dias. Talvez porque se aplique a tantas (quase todas) situações da vida.   

Quem nunca ouviu falar, nem viveu ou pesquisou o que é um tsunami, furacão ou terremoto, porque não tem idade para isso, ou por qualquer outro motivo, não sente medo de nenhum dos três. Única e exclusivamente por falta de informação, acesso ou conhecimento de causa. E  quase tudo funciona assim. Se não tememos aquilo que não conhecemos, então para que conhecer?

Escolher e preferir não saber para não sentir medo ou desconforto é o que muda o jogo da vida de cada pessoa.

Quantas vezes escolhemos continuar ignorantes diante das escolhas e dos fatos das nossas trajetórias? Por não aprofundar um olhar mais crítico e consciente para as nossas ações e atitudes, decidimos “não saber”. Parece mais prático e simples.

Ignorar que o seu casamento acabou, que no trabalho está tudo errado ou que seu filho(a) precisa muito mais da sua atenção do que você está conseguindo dar. Em um primeiro momento, pode parecer uma boa alternativa. Porque, assim, você facilmente evita aquela sensação que chancela que você é uma covarde e dependente por insistir nessa relação, ou uma fracassada que não teve talento para mantê-la produtiva e leve. Nem prazerosa ou digna. Ou subserviente e acomodada nas suas decisões e problemas relacionados ao trabalho, e/ou ainda pior, é uma mãe ou pai incompetente na árdua e bela missão que é amar e educar outro ser humano.

Quem não teria medo de encarar todas essas realidades? Muitas vezes ao mesmo tempo? Eu teria. Por isso vamos contornando e tentando resolver todos os problemas do jeito que dá, priorizando o que conseguimos, colocando tudo e todos, com sujeira ou sem, para baixo do tapete da nossa própria existência. E o tempo passa e todos os consertos, contornos, tentativas provenientes da nossa própria escolha pela ignorância e falta de autoconhecimento já não cabem mais embaixo dos nossos tapetes “mágicos” particulares. Então, tudo que ignoramos e que não quisemos enxergar até hoje por falta de coragem de sentir medo, transforma-se em uma imensa e angustiante bola de impossibilidades estacionada bem dentro da gente. Paralisante, compulsiva, doentia, teimosa, ciumenta, carente, impaciente, vítima. Entupindo todos os nossos chakras e adiando todos os nossos sonhos. 

O mais impressionante e contraditório é que o protagonista e o responsável por todo esse desconforto físico, afetivo, emocional, somos nós mesmos e a nossa própria ignorância, que diminui também os nossos medos. Que em 2020 sejamos menos ignorantes e mais valentes.

Por Mariana Bertolucci

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