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Craque e determinada: de Porto Alegre aos Estados Unidos atrás do sonho de jogar bola

Aos quatro anos, mal começava o recreio e ela corria para o pátio ao lado dos guris atrás da bola de futebol. Aos cinco, entrou para uma escolinha de futebol, em um grupo só de meninos. Aos 11, encontrou um time só de meninas para treinar. No aniversário de 15, escolheu de presente uma viagem aos Estados Unidos, decidida a apresentar aos olhares estrangeiros o seu talento no esporte. Já no primeiro dia de testes, na IMG Academy, na Flórida, um treinador norte-americano se aproximou e convidou Helena para ficar por lá, cursar high school com uma bolsa e investir naquilo que ela sempre amou: jogar bola.

Doze anos depois daqueles recreios com os guris, a trajetória de Helena Rodriguez Sampaio, 16 anos, já soma uma goleada. Em julho, quando estava de férias em Porto Alegre visitando a família, foi convocada para a seleção brasileira Sub-17 e viajou para a África, no Torneio Brics. Retornou de lá com o título, voou de volta aos Estados Unidos para iniciar o segundo ano letivo de high school e, neste curto espaço de tempo, já havia sido chamada para voltar à seleção em agosto, na Granja Comary, para treinamentos do Mundial Feminino Sub-17.

Helena tem um jeito de falar quase tímido, tranquilo, mas determinado e confiante especialmente se o assunto é futebol. Quando compara a situação das atletas brasileiras com a das meninas nos Estados Unidos, por exemplo, conta que o estímulo e o apoio por lá é diferente mais forte e mais organizado.

“Em termos de estrutura, o futebol de lá é muito mais qualificado. Aqui a magia brasileira é incrível; o jeito de jogar do Brasil é muito diferente! Lá, eles têm uma proposta diferente, técnica, tática… O que diferencia muito é a estrutura e o desenvolvimento.”

Mas viver longe da família aos 15 anos, morando em uma escola estrangeira, foi difícil, especialmente no início da experiência. Quando foi selecionada para a bolsa, Helena fazia parte da equipe feminina de futebol do Internacional.

 “No começo, na primeira semana, foi muito difícil, porque eu fui para lá e não imaginava nada eu só queria ir para jogar bola e estudar! Eu não imaginava como seria a parte emocional. Na primeira semana caiu a ficha, e foi muito difícil mesmo. Fui me acostumando, me adaptando bastante.”

Créditos: Bianca Pasetto

 

Para conseguir a bolsa de estudos, Helena apresentou um bom histórico escolar, participação em programas de voluntariado e até habilidades musicais ela toca violão. A IMG Academy abriga estudantes de diferentes países e oferece um programa que exige intensa dedicação aos estudos e aos treinos ao longo de todo o dia. O desafio de conciliar tudo isso demanda organização, mas Helena comenta sobre essa exigência com tranquilidade e de olho no futuro:

“Uma coisa que eu gosto muito é de estudar. Fui para os Estados Unidos justamente porque conseguiria conciliar esporte e estudo. Pretendo me formar e continuar nessa área do esporte; tentar atingir uma carreira profissional no futebol.”

A mesma desenvoltura Helena demonstra quando a conversa é sobre as diferenças e as semelhanças entre meninos e meninas que jogam futebol. Em férias no Brasil, em julho de 2018, ela frequentou os times masculinos jovens da AABB, na Zona Sul da Capital, treinando com os guris do clube para manter o ritmo. “Com os meninos, a intensidade é maior tempo de jogo , tudo isso muda. Mas a relação, com o passar do tempo, que eles te aceitam, vai ficando boa, e é a mesma relação entre meninos e meninas”.

Nos dias em que esteve no Brasil, a família pode acompanhar de perto a festa de Helena quando está com a bola em campo. O pai, Alexandre Sampaio, orgulhoso e também muito fã de futebol, conta que a família assiste aos jogos de Helena nos Estados Unidos pela internet, pois a escola disponibiliza vídeos. E, para ajudar especialmente a mãe, a professora Rosane Rodriguez, a localizá-la em campo, Helena coloca uma fita no cabelo, ao estilo de uma tiara, na cor rosa. É uma de suas marcas registradas a outra é o número 2, que está na camiseta do time e na história pessoal: ela nasceu no dia 4/2/2002 e vem driblando obstáculos com estilo e determinação.

Por Ângela Ravazzolo

 

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