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Segundo o conceito de psicologia analítica criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung — o qual admiro profundamente —, inconsciente coletivo é a camada mais profunda da psiquê. Ele é constituído pelos materiais que foram herdados, e é nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos.

Passados mais de sete meses de retorno da minha viagem à Índia e Nepal, e a promessa de escrever um relato ao voltar dessa experiência tão transformadora, percebo o quanto é fácil se perder em meio ao INconsciente coletivo e aos prazeres mundanos de uma capital como Porto Alegre.

Sou outra pessoa após o yôga entrar fortemente na minha vida e experienciar um pouco da cultura oriental. Alguns assaltos familiares me fizeram repensar minha autorresponsabilidade. Percebi o quanto já recebi nessa vida e o quanto preciso me doar. Passei a participar de alguns trabalhos voluntários e um dos motivos que me levou à Índia foi o voluntariado que faria com crianças de lá. 

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Um dos maiores desafios e aprendizados atuais é de outro voluntariado, na FASE (Fundação de Atendimento Socioeducativo), com práticas semanais de yôga aos menores infratores, auxiliando uma amiga que admiro muito, Natália Longhi. Local que sempre me emociona e me faz sair transbordando amor e gratidão. Lá, tenho certeza do quanto de amor existe em cada um de nós.

Antes disso tudo acontecer e minha vida virar do avesso — comprar meu primeiro apartamento e a construtora falir junto com um relacionamento de 8 anos —, me fazia perguntas e não conseguia encontrar respostas. Estava vivendo uma vida sem sentido, DESconectada de mim e com tantas máscaras que me perdi de quem realmente era.

Durante as semanas que estive na Índia, pude compreender o real sentido da palavra CONEXÃO, comigo e com o todo. Lá, pouco importa a sua conta bancária e sua aparência física. Eles optam pela leveza e simplicidade. O tempo passa devagar. Mesmo com tantas buzinas e um trânsito frenético, tudo simplesmente funciona como um passe de mágica. Usamos relógio para quê? Estamos indo para onde? Correndo contra quem? Qual o problema de envelhecer? A devoção e a espiritualidade podem ser sentidas em todos os lugares. Não é à toa que eles se encontram em uma dimensão superior a nossa…

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Os valores que me foram incorporados com o yôga como a não-violência (não machucar, ferir ou prejudicar o outro fisicamente, em pensamento ou em palavras), a verdade (ser verdadeiro e coerente nas palavras, no pensamento e na forma de agir), o desapego (daquilo que não possui mais valor ou importância), o não-julgamento e a mera aceitação (diante de fatos, pensamentos e pessoas), higiene mental e espiritual (e não apenas física), o contentamento (com o momento presente independente das circunstâncias) e a entrega ao desconhecido (aceitar a consciência cósmica e confiar que existe algo supremo nos guiando) são visíveis na prática. 

O apego só gera sofrimento. Não temos controle sobre nada, somos meros observadores, mas nós, ocidentais, insistimos em pensar o contrário. Quando realmente nos conectamos com o universo e com a nossa natureza, nos abrindo para viver com gratidão aquilo que a vida nos apresenta, coisas mágicas começam a acontecer. A vida ganha mais cor e sabor, como na Índia. Hoje estou aqui, amanhã posso não estar.

Definitivamente não estamos nessa vida a passeio. O que quero deixar de legado enquanto estiver aqui nessa dimensão? Quantas vezes precisarei reencarnar…?

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Parei de usar relógio, parei de correr contra ele, parei de querer planejar tudo e controlar algo. Hoje vivo um dia de cada vez. E me permito apenas SENTIR. Sei que sou responsável por tudo que faço, não adianta plantar maçã querendo colher abacaxi. Não quero mais pertencer a um mundo de pessoas conectadas o tempo todo e ao mesmo tempo desconectadas de si e do todo. Uma farmácia em cada esquina não é capaz de curar uma sociedade doente. As pessoas vivem no passado e no futuro, menos no PRESENTE.

A mente MENTE o tempo todo… 

Na Índia, as crianças aprendem a meditar e praticar yôga desde cedo. Elas meditam no meio de ruas arenosas com vacas passando sob um sol de quarenta graus Celsius e está tudo bem. Não consigo mensurar a experiência com o voluntariado que fiz lá, me doei tão pouco e ganhei tanto. Aqueles olhares e sorrisos ficarão para sempre no meu DNA.

Segundo Dalai Lama, se todas as crianças de até oito anos meditassem, eliminaríamos a violência do mundo em uma geração…

Na Índia, ainda tive a oportunidade de conhecer um café colaborativo para mulheres sobreviventes de ataques com ácido (Sheroes Hangout). Foi muito emocionante ver a força de mulheres que conseguiram recuperar sua auto-estima e transcender uma vida bem além da aparência.

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No Nepal, ouvir NAMASTÊ (forma de cumprimento entre duas pessoas que expressa um grande sentimento de respeito, de que todos nós compartilhamos da mesma essência, da mesma energia, do mesmo universo) por onde passava, reverberava como um mantra para meus ouvidos, outra prática também incorporada na minha rotina diária.

Precisamos seguir nosso coração. Enquanto focarmos no externo estaremos presos a um ciclo de sofrimento e INconsciência. Temos que olhar para “dentro”, apreciar indivíduos, valorizar relações, sair do individual e ir para o coletivo. Caminhar para “dentro”, na verdade é caminhar para “fora”.

Por Jaqueline Poletto Cemin

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