Hoje, quando escrevo este texto, é segunda-feira. 23 de janeiro. 19h51.
Meu marido, Rodrigo, está ao meu lado. Em uma reunião remota, com um novo cliente em potencial para o Estúdio Telescópio, nossa agência de comunicação que assina a coluna Bá Experiência.
19h59 agora. Fiz uma pausa para ele me contar sobre a reunião. Foi sucesso.
20h31. Outra pausa, porque nossa vizinha aqui na praia, em Imbé, nos pediu ajuda para montar um currículo. Ela conseguiu a aposentadoria e mudou-se de Novo Hamburgo pra cá em 2020. Depois do período sabático, cansou de fazer nada, e está em busca de um emprego para ajudar a passar o tempo. Agora sim, vamos ao assunto desta semana.
Precisei contar a vocês o que se passava aqui porque me senti hipócrita quando comecei a escrever sobre a pesquisa publicada nesta reportagem da Revista Exame, ao mesmo tempo em que lutava contra o sono e contra a exaustão. E, ainda assim, seguia, sem conseguia parar de trabalhar. O teor da pesquisa?
72% da população brasileira sofre alguma sequela do estresse. Dentro desse grupo de estressados, 32% estão assim por causa de sintomas relacionados à síndrome de burnout. A reportagem da Exame é recentíssima. Foi publicada este mês, mais precisamente no dia 11 de janeiro de 2023.
A síndrome de burnout, de acordo com esta reportagem da Veja Saúde, é “a exaustão física e mental provocada pelo trabalho — seja pela carga em si, seja pelo clima ou pressão do ambiente”.
Somente em janeiro de 2022 a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a síndrome como uma doença ocupacional que apresenta sintomas físicos e emocionais. Burnout é um tipo de estafa profissional. É um problema cada vez mais comum. Principalmente no ambiente corporativo.
Antes que você pense que é uma espécie de desabafo, não é.
Eu acordei em torno de 7h da manhã, mas só levantei mesmo da cama às 8h. Grande parte da população, neste horário, embarcava na segunda ou terceira condução para chegar ao trabalho — ou já estava na labuta, depois de acordar 4h ou 5h da madrugada.
Embora sejam agora 21h42 da noite, e eu ainda esteja trabalhando, tenho o privilégio de poder fazer isso remotamente. Por conta disso, inclusive, posso estar no litoral em uma segunda-feira.
Ainda que eu esteja cansado, eu faço algo que escolhi. Tenho uma profissão pela qual nutro um amor que me motiva, e estou aqui, me deliciando em cada pensamento que transcrevo para este texto. Eu amo o que eu faço. Em resumo, sou privilegiadíssimo, e seria uma afronta eu fazer qualquer tipo de reclamação.
No entanto, não podemos, por esse motivo, ficar sem acender um alerta para a questão da saúde mental e o excesso de trabalho diante da pesquisa publicada na Exame. Aliás, saúde mental não é frescura, tampouco “mimimi”.
Vivemos em um tempo em que a fronteira entre vida profissional e vida pessoal está cada vez mais instável. E acabamos respondendo mensagens de trabalho no WhatsApp às 21h, 22h, 23h. Em uma jornada que deveria se encerrar, como é o meu caso, no horário comercial.
O objetivo deste texto é chamar para uma reflexão. Estamos cuidando da nossa saúde mental, na medida do possível? Conseguimos ter um tempo de qualidade com nossos filhos, pais, esposas e maridos? Colocamos nós mesmos ou o trabalho em primeiro lugar na nossa vida? Estamos equilibrando da forma que podemos as horas de produzir e os momentos necessários de descanso? Estamos tirando férias todos os anos?
A reportagem da Revista Exame aqui citada, alerta: nunca se discutiu tanto a importância das férias para equilibrar a vida profissional e a vida pessoal. O descanso não é um luxo, mas algo fundamental para aliviar a fadiga física, o estresse e o cansaço emocional. E, inclusive, aumentar a produtividade.
Tudo é uma questão de equilíbrio. A Val, minha vizinha, por ironia do destino apareceu hoje à noite para dizer que está cansada de, às vezes, ficar de pijama até às 16h — e precisou de ajuda para fazer um currículo. Sentir-se improdutivo é ruim, mas trabalhar até esgotar nossa sanidade também não é um caminho que me parece coerente. Vamos pensar sobre isso?
Boa sorte para nós nesse desafio. Boa sorte na reflexão. E, Val, boa sorte na busca pelo emprego. 22h35, hora de desligar a mente. A revisão fica para amanhã.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, falamos sobre a importância das férias após a pandemia com a convidada Bárbara dos Anjos, jornalista e podcaster. Ouça agora no Spotify clicando aqui.
Bá Experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio