No último sábado, entrando no edifício da praia onde veraneamos, dei de cara com um 23 dourado, murcho e tombado na grama (esse mesmo aí da foto acima). Para algumas pessoas, como eu (cada vez mais), os finais e inícios de ciclos vêm acompanhados de uma avalanche de pensamentos e sensações esquisitas. Mentalizando a lista anual de desejos e metas é inevitável encarar mais uma vez a procrastinação nossa de cada dia e os traumas de toda ordem. É sempre um sortido e variado de sentimentos contraditórios e memórias marcantes que estendem-se pelo exaurido dezembro festivo, mês oficial de confraternizações e expectativas.

Uma nostalgia eufórica dá o tom dos reencontros regados a emoção, saudades e uma ansiedade geral por dar conta de tanta coisa nos 365 dias de todos os anos. Chegamos ao futuro e ele não existe, para desespero coletivo. As sequelas físicas e emocionais da pandemia saíram das estatísticas e das manchetes e estão em nós, em nossas famílias e nas pessoas que nos cercam. Gente de todas as idades, jeitos e lugares estão fragilizadas emocionalmente e sofrem com todo o tipo de transtorno mental. Muito remédio, pouco diálogo. Muitos presentes, pouca presença. Copos e sacos cheios, mentes e estômagos vazios. Brindes faceiros, olhares perdidos. Dependências potentes e autonomias frágeis. Nesses primeiros dias do ano desejo mais realidade, menos virtual e que nossas inteligências não sejam artificiais. Contra a cobrança e o autoflagelo, doses fartas de confiança e foco. Menos filtros do Instagram, mais filtros solares. Que seja gostoso estar na nossa pele, desde que também sejamos capazes de nos colocar na do outro. Que a gente sinta falta das Ritas, das Gals, das Tinas e das Glorias Marias e não de nós mesmas. Acolhendo e agradecendo cada luz e sombra, porque é na compreensão da dualidade que estão as melhores respostas. Tudo o que nos incomoda no lado de fora é reflexo do que não conseguimos resolver no de dentro. Que as ondas de calor sejam dos desejos ardentes e não das mudanças climáticas. Que o fogo arda para transformar e não para desmatar florestas e matar os animais. Que as águas corram desenfreadas para lavar as almas e não para levar as casas. Que a gente tenha tempo de olhar para o céu mesmo sem eclipses. O poder serve para fortalecer as pessoas e não para controlá-las. Que saibamos escolher guerras e combates que valem a pena, as mais importantes são viscerais, silenciosas e muito íntimas. Mais detox e menos botox. Cheia de altos e baixos, surpresas e movimentos bruscos, a vida é a montanha-russa mais emocionante, assustadora e excitante que existe. A diferença é que não podemos comprar outro ticket e entrar na fila para o repeteco. Seja dona de si, não da verdade. Gentileza gera gentileza. A vida é curta, o tempo voa, nada é por acaso e quase tudo tem seu preço. Respirar é um belo remédio para sentir esperança e transformar um vazio em uma promessa. Se até a Barbie amadureceu em 2023, aposto que a gente também consegue. Vem 2024! Por Mariana Bertolucci

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  1. Paula Baggio says:

    Desejo que casa uma as palavras do teu texto saiam da tela e aterrissem na vida real das pessoas comuns, pois estamos inundados por frases lindas e fatos desastrosos. Ser mais e mostrar menos, sentir de verdade aquilo que faz sentido para cada um e não aquilo que dá ibope. Esse é o meu desejo para os próximos tempos.

  2. Paula Baggio says:

    Oi Mari. Desejo que casa uma as palavras do teu texto saiam da tela e aterrissem na vida real das pessoas comuns, pois estamos inundados por frases lindas e fatos desastrosos. Ser mais e mostrar menos, sentir de verdade aquilo que faz sentido para cada um e não aquilo que dá ibope. Esse é o meu desejo para os próximos tempos.

    1. Helena de Araújo Lima says:

      Adorei!’ Que texto fantástico! Muito para refletir e refazer ( o que não está bem).
      Parabéns, Mari! Um lindo 2024 pra todas nós!

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