We Are the World

Certa vez ouvi a frase “ninguém conquista direitos pedindo ‘por favorzinho’. É preciso lutar.” Achei coerente.

Para sermos ouvidos, reconhecidos e respeitados, às vezes, precisamos nos impor. E isso vale tanto para situações do dia a dia quanto para reivindicar mudanças. Por isso existem movimentos sociais. Se você já pensou em “mimimi” ou “militância político-partidária”, não siga lendo este texto. Dificilmente você o entenderá.

Um exemplo de direito conquistado que um “por favorzinho” não resolveria é o casamento entre pessoas do mesmo gênero. Foi necessário pressão, barulho. Grito. Ainda assim, vira e mexe querem derrubar o reconhecimento da união estável entre dois homens ou duas mulheres.

Outro caso é o da questão racial norte-americana nas décadas de 1950 e 1960, quando pessoas negras, entre outras discriminações, deviam ceder seus lugares nos ônibus para brancos viajarem com maior conforto. Em dezembro de 1955, no Alabama, uma mulher negra de 42 anos, a Rosa Parks, recusou-se a levantar e acabou sendo presa. Ela deixou a cadeia após pagar uma fiança, o que deu início à campanha para que negros tivessem os mesmos direitos dos brancos. Martin Luther King liderou o movimento e também chegou a ser preso, mas, graças à luta cujo estopim foi o caso da Rosa Parks, a Suprema Corte acabou com a segregação racial nos transportes públicos.

Harry Belafonte, músico norte-americano — filho de mãe jamaicana e pai francês —, participou de protestos e até pagou fianças de Martin Luther King. Belafonte viveu a maior parte da infância na Jamaica antes de retornar aos Estados Unidos. Ativista pelos direitos civis, ele foi um dos responsáveis pela criação do USA for Africa, que propôs incluir estrelas negras em um single beneficente, citando a necessidade de “negros salvando negros”. 

O resultado disso? A canção We Are the World, composta por Michael Jackson e Lionel Richie, e gravada por 46 vozes da música, incluindo nomes como Cyndi Lauper, Bruce Springsteen, Tina Turner, Stevie Wonder, Billy Joel, Bob Dylan e por aí vai (incluíram artistas brancos também, embora a ideia inicial fosse só ter artistas negros).

No início deste texto, eu citei a frase “ninguém conquista direitos pedindo ‘por favorzinho’. É preciso lutar.” E disse que acho coerente (continuo achando). O caso We Are the World, contudo, nos ensina outro lado. A canção arrecadou US$ 100 milhões para o combate à fome e a doenças no continente africano. E isso também foi lutar por direitos básicos de populações que não tinham acesso sequer à alimentação.

Não pedir “por favorzinho”, então, significa, o quê? Revolta, desobediência civil, manifestações e revolução? Sim. Mas significa também o poder do esforço coletivo para enviar uma mensagem ao mundo através da arte, do amor, do altruísmo, da união e da articulação entre pessoas. Significa que para mudar uma realidade é preciso agir, e nem sempre se consegue sozinho. Nem pedindo “por favorzinho”.

Nesta semana, no podcast Bá que papo, falamos sobre o documentário A Noite que Mudou o Pop, da Netflix, que mostra momentos incríveis dos bastidores da criação e gravação do clipe e da canção We Are the World. Ouça agora no Spotify clicando aqui. 

Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.

Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio

CategoriasSem categoria

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.