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O que, afinal, salva vidas em tempo de catástrofe climática?

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, concedeu entrevista ao Em Pauta da Globo News na noite de 6 de setembro. Um dia de luto para o Estado, que vive uma tragédia após ser atingido, novamente, por evento climático extremo. Leite falou de tudo o que estava sendo feito para mitigar o estrago gigantesco em diversas cidades.

Em certo ponto, o jornalista que cobre a pauta ambiental há décadas, André Trigueiro, questionou o governador sobre o que estava fazendo para evitar novas tragédias. O clima ficou tenso. Bem tenso. Disse Leite que, enquanto ele estava trabalhando e salvando vidas, Trigueiro estava sentado, comentando.

Eu quero repetir a pergunta de Trigueiro: o que nós, sociedade, através de nossos governantes e líderes políticos, estamos fazendo para impedir novas tragédias?

E faço essa pergunta porque há muito pouco tempo atrás, nosso Rio Grande do Sul estava prestes a ver ser criada a maior mina de exploração de carvão a céu aberto da América Latina. Os três últimos governadores tiveram a chance de barrar esse absurdo e não fizeram. Isso poderia salvar vidas. Ter coragem para barrar (des)investimentos como a Mina Guaíba salva vidas. Nenhum o fez. Cada um de um partido diferente, com ideologias diferentes. Mais: a Assembleia Legislativa, com apenas um voto contrário, aprovou a criação de um pólo carboquímico no Estado. Tudo isso na última década. Ou seja, quando já sabíamos da emergência climática.

Coube à sociedade, através de movimentos independentes, alertar a sociedade sobre o que estava por vir. A Mina Guaíba ficou no papel. Não porque os políticos entenderam que assim salvariam vidas, mas por pressão e imagem.

A catástrofe climática que vivemos exige mais dos governantes do que imagem e discursos. Exige ação. Foram eleitos para isso. E, eleitos democraticamente, devem explicações ao povo que governam.

Não vejo, em nenhum estado do Brasil, governantes que façam isso. Pelo contrário, vemos governos querendo explorar petróleo na Amazônia. Pior: dizem que o farão para poderem promover a transição energética. É como alguém que está preso em um poço dizer que vai cavar mais para poder chegar ainda mais no fundo e então, estando ainda mais longe da superfície, decidir começar a subir. Só que a corda que o puxaria de volta não está mais ao seu alcance, porque ele cavou fundo demais.

Vidas são salvas pela coragem de quem faz o que precisa ser feito. Não apertando um botão, como disse o governador Leite. Ao questionar e cobrar isso, a imprensa cumpre seu papel. Porque a sociedade, nós, pessoas comuns, somos as vítimas das decisões erradas tomadas pelos governantes. Neste caso, não só nós pagaremos, mas as próximas gerações.

Não é uma fase. Não é uma tragédia isolada. Poderia ser evitada a tragédia dessa semana? Essa é uma pergunta retórica, pra mim. Ela deveria provocar a ação imediata de coragem que esperamos de novas lideranças políticas diante da catástrofe climática que vivemos. Assim, honraremos o nossos ancestrais e superaremos os erros e a omissão daqueles que, enquanto também socorreram vítimas em outras tragédias climáticas, incentivavam projetos que só faziam recrudescer a emergência climática.

Sendo, por fim, uma mulher de fases, vivo uma fase de cobrar livremente e sem medo os políticos. É obrigação deles acolher vítimas, reconstruir cidades E agir para que no futuro isso não mais aconteça. Não bastam sirenes ou botões vermelhos. É preciso evitar que as sirenes não mais soem. Isso exige coragem, transparência e senso de urgência.

Por Flávia Moreira, jornalista

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