Existe assunto que é tabu sempre. É o caso do aborto. Mas quem pode, de fato, falar sobre isso? Falar todo mundo pode! Aliás, vivemos um tempo em que todo mundo tem uma opinião relevante sobre tudo e a divide nas redes sociais como se fosse especialista.

A Britney Spears – não sei como defini-la hoje – trouxe de novo o tema à tona. Ela conta em seu livro que interrompeu uma gravidez e que teve outra ocasião em que houve um aborto espontâneo.

Eu não li o livro nem as manchetes sobre o aborto provocado. Li sobre o que foi espontâneo. Por uma razão simples: já passei por isso.

Desconheço dor maior.

Justamente por isso, falo sempre que preciso. O aborto precisa deixar de ser um tabu, precisa deixar de ser polêmica política. O aborto precisa ser discutido, entendido, analisado. Assim como seus impactos.

Não encontrei até hoje uma lógica nas opiniões sobre esse não-assunto. Há liberal que é contra o aborto. Há conservador que defende que a mulher tem o direito de decidir sobre seu corpo. Há quem não tem opinião. E tudo vira cortina de fumaça.

Lamento que não se fale, quando os debates ressurgem, sobre a saúde mental de quem vivencia um aborto. Você vai do céu ao receber a notícia, à dor mais profunda que há. Às vezes você enfrenta isso sozinha; às vezes tem apoio; mas pouco fala. E quanto menos fala, mais a dor cresce.

Despois que sofri um aborto espontâneo, eu mudei. Não foi uma mudança rápida ou instantânea. Ela ainda está acontecendo. Mas uma certeza eu tenho: a gente precisa falar sobre isso. Porque, quando falei, amigas que amo profundamente me contaram que passaram por isso. Onde eu estava que não soube na época em que aconteceu?

Não falar é nos condenar a passar pelo inferno sozinhas. Falar é permitir acolhimento, entendimento. Não apaga. Não finda o choro. Não termina com os “e se não tivesse acontecido”. Mas ameniza a dor, acalma o pranto.

Que bom que a Britney falou sobre. É preciso coragem para isso.

Flávia Moreira, jornalista

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