A direção da peça Gabinete de Curiosidades é de Luciano Alabarse. No elenco Arlete Cunha e Zé Adão Barbosa e a dramaturgia é do médico e escritor Gilberto Schwartsmann. Fernando Zugno volta aos palcos em uma participação especial. No dia 29 haverá debate sobre a peça e a iniciativa é uma parceria com a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre – SPPA.

Quando Alabarse leu o texto de Gilberto Schwartsmann pela primeira vez, reconheceu eixos dramatúrgicos relevantes: a solidão dos personagens – dura, cruel, lírica, turbulenta. Dois velhos jogados e esquecidos em um asilo público; as falhas e insuficientes políticas públicas relacionadas à velhice e à terceira idade; o entorno político desse descaso institucional, intenso e permanente, com a cultura e com a velhice. Nesse contexto realidade e ficção se misturam borrando fronteiras, uma homenagem à própria história da dramaturgia ocidental. Beckett, Ionesco, Brecht, além de muitos outros nomes da história teatral, montam uma aula primorosa sobre dramaturgia.

A história se passa no ano de 2040, em um velho asilo, na capital Corrúpnia, um país imaginário – não tão imaginário assim – cheio de contradições e injustiças. Neste país tão injusto, o respeito ao indivíduo e às diferenças foi praticamente esquecido. As desigualdades são imensas. E alguns – seis indivíduos, talvez – ganham mais do que a soma de todos os rendimentos da metade mais pobre da população. Na Corrúpnia, os abismos sociais são a regra. A cultura e a arte são tratadas com desdém pelas autoridades e pela maior parte da elite econômica. Para receber apoio financeiro a iniciativas artísticas, o setor da cultura deve literalmente implorar de joelhos por algum milagre que sobre do orçamento do governo: “Para mim, homem de teatro prestes a completar 50 anos de carreira, dirigir um espetáculo que reverencia dramaturgos e atores, ter em mãos um texto debruçado sobre os sonhos e as dificuldades da profissão, os ossos do ofício, o inventário teatral que nos foi legado, e, – com tudo isso, por tudo isso -, sentir em mim, intacto, o amor pelo teatro, foi revigorante, radiante e doloroso. A empatia com o texto foi fulminante. Revelar mais um dramaturgo gaúcho foi a derradeira razão para aceitar essa empreitada. Gilberto Schwartsmann, um amigo a quem tanto admiro, me surpreendeu mais uma vez. Encarei sua proposta dramatúrgica disposto a dar minha contribuição à beleza criativa de seu texto”, conta Luciano Alabarse.

Gilberto Schwartsmann, que assina a dramaturgia do espetáculo, celebra sua criação em uma peça teatral pela primeira vez. O texto original é da obra literária O Sol Brilhou na Corrúpnia. “O autor – na solidão de sua escrivaninha – sonha com a possibilidade de que o texto possa, quem sabe, inquietar o maior número possível de mentes da plateia, quando ela deixar a sala de teatro”, deseja Schwartsmann.

Até o dia da estreia, foram aproximadamente quatro meses entre ensaios, ajustes e muito trabalho junto à equipe, que ultrapassa a marca de 20 profissionais ligados ao espetáculo. Zé Adão Barbosa interpreta Oneirópolos, enquanto Arlete Cunha dá vida a Disoíonos, que em grego significam otimista e pessimista, respectivamente. Zé e Arlete em meio a suas genialidades e atenção aos detalhes vão do drama à comédia em fração de segundos e asseguram a seriedade e ao mesmo tempo conferem leveza ao texto juntos e cada um de seu modo também. “Gabinete de curiosidades é uma declaração de amor ao teatro, às palavras. À arte enfim. É uma metáfora fascinante sobre a resistência da arte e da cultura em tempos de ignorância e barbárie”, declara Zé Adão. “Um velho ator com suas lembranças e as memórias de uma velha atriz. E vestem retalhos de personagens. E brincam com conhecidas palavras. Alimentam-se nas emoções, nos confrontos, nas tristezas, nos amores. E divertem-se um com o outro nos ecos do teatro das suas vidas”, reflete Arlete.

Foto: Alisson Fernandes de Aguiar

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