Meu prédio adotou um sistema de segurança que traz uma certa insegurança para os moradores. O motivo é que o reconhecimento facial da portaria virtual funciona de forma aleatória. Então, virou uma loteria saber quando seremos reconhecidos ou não. Lembra uma música que o Julio Iglesias cantava com sua voz empostada: “a veces si, a veces no”. A inteligência virtual é de lua, deve ser do signo de câncer. Te reconhece conforme seu humor, o que varia bastante. Com todos estes altos e baixos, não aconselho ninguém a mudar a cor do cabelo e o penteado. Uma harmonização facial, então, pode ser fatal.

Contei tudo isso para dizer que estava voltando para casa hoje pela manhã quando tive um insight. Lá ia eu e meus três cães. Um cego, um manco e um que encrenca com todos os peludos do prédio. Mais algumas sacolas de supermercado penduradas nas duas mãos. Perto do equipamento já fiquei tensa. Usando a força da mente e torcendo para ser um dia de sim! E não ouvir a resposta do robô que informa sem a menor culpa: você não foi reconhecida. Tente novamente. 

Não sei como, pois estava de óculos, o sistema me reconheceu. Fiquei tão agradecida que fui entrando, arrastando a cachorrada. Porque a porta é rápida e quem não anda ligeiro sofre consequências, como ser esmagado ou, no mínimo, preso no portão. Isso ainda não aconteceu com os meus cães e nem comigo. Mas minha irmã já levou um bom tabefe da porta como primeiro aviso. Em Caçapava do Sul, cidade em que nascemos, isso se chamaria de “costeio”. É um aviso para algo pior que pode acontecer se a pessoa não muda a atitude. Um pequeno desaforo.

O que me levou agora a mudar os procedimentos de despedida. Não tem mais conversinha. Fala tudo que tem para falar, dá beijo e tchau! Depois que passar a tag no sininho é acelerar e sair. E não pode bobear, nem olhar para trás.  

“Mas isso não é tudo. O pior é a continuação do depois”. Outro ditado Caçapavano que me persegue até hoje. Agora vem o melhor: são DOIS portões para serem ultrapassados. Enquanto me encaminhava para o segundo, tive tempo de pensar no que faltava fazer naquela manhã. E ainda ter um insight: por que minha cabeça pensa no que falta sempre? Não posso apenas relaxar e usufruir dos louros de tudo que havia feito naquela manhã? Por que estamos sempre nessa gincana com tarefas a cumprir? Todos somos assim ou é meu ascendente em Capricórnio? 

Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram

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