Dicionário

Em 2012, morei em São Paulo por 6 meses. Nesse período, convivi com paulistas, paulistanos e gente de diversas regiões do Brasil. E conheci algumas “gírias” que não fazia ideia que existiam.

Certo dia, alguém disse “baianagem”, referindo-se a uma “atitude burra” de outra pessoa. Na hora não entendi. Perguntei o que significava tal expressão, e me explicaram. “É baianice. Coisa de baiano.” Fiquei chocado. Mas não questionei. 

Talvez, em 2012, certas coisas fossem normalizadas, por mais absurdas que sejam hoje. Ou eu que tinha muito a aprender, afinal, jamais deveria ter sido conivente, embora nunca tivesse reproduzido aquela “gíria”. Faço questão de escrever assim, “gíria”, entre aspas.

De acordo com o dicionário online Aulete, gíria é “uma linguagem peculiar que se origina de um grupo social restrito e alcança, pelo uso, outros grupos, tornando-se de uso corrente”. “Baianagem” ou “baianice” até podem se encaixar nessas características. “Viado”, no sentido depreciativo, também. Mas nem por isso deixam de ser fruto de xenofobia/racismo e homofobia, respectivamente.

Esta semana, em janeiro de 2024, durante uma discussão, o participante Davi, do Big Brother Brasil, disse que “o pai (dele) o fez homem e não viado”. Davi é baiano. Sua torcida o defendeu na internet, com o argumento de que, na Bahia, usar a palavra viado, neste contexto, é apenas uma gíria. Tá bom.

Não se trata de eleger qual fala é mais absurda. Assim como o feminismo, acredito que a luta antiracista e a contra xenofobia são pautas irmãs da luta da comunidade LGBTQIA+. A questão é que, assim como “baianice” para se referir a algo negativo pode ser extremamente doloroso para a população da Bahia — e do nordeste como um todo — usar a palavra viado para ofender um homem é igualmente torturante. Nós, homens gays, não somos sinônimos de vergonha ou menosprezo. Não há razões para sermos caracterizados como desgraça. 

Dia 28 de janeiro, a cidade de Tramandaí, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, vai ter a primeira edição da Parada Livre LGBT+. É perto de onde veraneio.

Vira e mexe, ressurge a discussão sobre a necessidade de ainda existir as paradas do orgulho LGBT+. Se ainda é preciso ir às ruas para deixar claro que, se um dia existiu vergonha, a gente a transformou em orgulho, caso alguém não tenha percebido.

Será que ainda precisamos? Bom, acho que a resposta já está óbvia.

No podcast Bá que papo desta semana comentamos os principais vencedores do Emmy Awards 2024, o grande lançamento de Yes, and?, da Ariana Grande, as polêmicas da semana no BBB24 e as atrações do Planeta Atlântida 2024.

Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.

Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio

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