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A força do grupo para manter o equilíbrio

Agir naturalmente em caso de despressurização da aeronave, enquanto máscaras estão caindo, faz parte do meu jeito de ser. É um recurso que uso para não me deixar levar em um turbilhão de emoções que não me permitiria ajustar a minha e nem auxiliar quem precisa de apoio.
É assim que me vejo em momentos caóticos como esse da catástrofe no Rio Grande do Sul que estamos passando. Trabalho com energia, preciso estar bem para poder auxiliar outros que estão tomados pelo pânico. Se entrar nessa vibração do medo, me afogo em minhas emoções e não consigo ajudar nem a mim mesma.
Isso não quer dizer ficar de braços cruzados. Contribuo com alguma ação prática que auxilie efetivamente, jamais publico vídeos e posts prontos alarmistas e nem reforço mensagens negativas que entusiasmam pessoas a fazer estoque de alimentos, papel higiênico e correrem aos postos de gasolina.
Meu pensamento é pragmático. O que vier a gente tem que ter capacidade de lidar. Não brigo com o tempo, não procuro culpados. Não toco as trombetas do fim do mundo. Ao contrário, faço o mínimo de barulho possível porque já há ruído demais. Não sou eu que ficarei emitindo para a atmosfera pensamentos negativos para sobrecarregar um clima emocional que já está pesado. Por que, simplesmente, isso não ajuda em nada.
Esse jeito de agir na adversidade me ajudou a fazer vínculos afetivos. Foi em meio a uma possibilidade de demissão coletiva em que passei em uma redação, com tensão no ar afetando todos, que tive uma ideia: vamos comer um arroz com galinha em uma panela de ferro e tomar uma espumante para celebrar a vida. Mal sabia eu que esse cardápio sem coerência nenhuma daria início a uma confraria que reuniu pessoas muito diferentes e que essa amizade sobreviveria a dias nublados e ensolarados há mais de 20 anos.
É nesse ponto que a força do grupo se torna essencial quando se estimula a troca e reforça o que há de positivo. Boiamos juntos, apoiados uns nos outros. É provado que a convivência com pessoas e animais que amamos estimulam a ocitocina, hormônio da felicidade. Como a gente sabe isso? Por que sempre dá aquele gostinho de quero mais disso e esses vínculos amorosos nos aquecem É nesses afetos que nos apoiamos em dias ruins.
É difícil nesse momento pensar no lado positivo quando falta água, luz, muita gente desabrigada, e há tristeza e desalento no ar. Mas depois de um período alarmista o que estou percebendo é uma enorme onda de solidariedade surgindo. Pessoas focadas em contribuir. Não se fala mais nas diferenças (pelo menos a maioria) e existe um interesse legítimo de ajudar de alguma forma. Incrível e bonito de se ver. E essa força vai se alastrando. É uma rede que contagia, como aquela imagem de uma corrente de pessoas de braços dados para puxar o barco juntas.
Uma das boas memórias que tenho da infância é do grupo de amigas da minha mãe. Mulheres que trabalhavam, mas achavam um tempo para se reunir, fazer tricô, trocar receitas de comidinhas boas, fazer confidências. Era uma alegria o encontro e as crianças podiam participar desde que não fossem protagonistas. Ali era o momento delícia delas. E o quanto isso fazia bem para a saúde emocional delas é difícil medir.
Inspirada nessa boa memória criei o Clube Essencial que traz uma ideia de encontro coletivo de mulheres. Isso acontece sempre nas segundas, de forma on line, para começarmos a semana tendo esse tempo precioso de pausa, de respirar fundo e perceber como estou chegando nesse dia, o que me aflige. Os temas são variados, mas tratam sempre de saúde emocional, com direito a exercícios e receber uma aplicação de energia que revitaliza. É um clube para tratar de coisas que não postamos nas redes sociais, mas dizem muito sobre quem são as participantes e como se construíram até aqui.
A história de cada uma vai sendo inspiradora para a outra. Aos poucos vamos nos percebendo irmanadas em uma egrégora que acolhe e não julga. Pois a empatia é uma das regras que não precisa ser lembrada. É uma teia, um tricô que vamos tecendo juntas. Sem pressa, cada uma a seu tempo, vai percorrendo seu caminho de forma mais consciente de quem é e o porquê de suas escolhas. Só assim, despertas, podemos andar mais leves sem nos deixar afogar por nossas emoções. E isso ajuda o Planeta. Pois, querendo ou não, estamos em rede.

Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram

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