No dia 5 último farias 100 anos. Foste justamente lembrado e homenageado. Textos lindos e emotivos na Zero Hora do teu irmão Jayme e do teu filho Nelson. Além da inauguração de uma magnífica estátua no parque que, aqui, leva teu nome. Pouco a acrescentar.
Sou ateu e os judeus também não acreditam na ressureição. Pelo que sei, durante o Kadish são feitas rezas pela alma de parentes que se foram. Como esse negócio de religião é meio complicado, pode ser que esta carta chegue até tua alma. Vale a intenção.
Com tão somente 60 anos, me abandonaste, ou seja, há quase 40 anos. Eu continuo lembrando permanentemente de ti. Nada, nem ninguém preencheu ou vai preencher o vazio da tua ausência. Não consigo pensar a RBS como antes. Falta alguma coisa. Não tenho mais a tua presença na sala ao meu lado para me orientar e corrigir. E para me elogiar quando saia bem nas tarefas que me confiavas, algumas bem confidenciais. Isso sem falar do uisquinho no fim da tarde e, às vezes, na extensão em poucas e boas farras noturnas, que começavam nos bares do alto da rua Barros Cassal (Terris Bar e Bar do Jorge). Quando possível, dávamos uma passada no Gruta Azul.
Mandavas na RBS sem mandar. Tua presença imponente e afetiva prescindia de um ato de imposição. Como contador que eras, quando eu chegava para me queixar de um companheiro que cometera alguma falha, tu dizias: “Bacharel, puxa a contabilidade, se o crédito for positivo, dá-lhe um puxão de orelhas e outra oportunidade.” Eras um humanista incrível.
Digo-te que, mesmo com esse vazio, continuamos tua missão da melhor maneira possível. O Jayme e o Nelson, bem como com milhares de colaboradores, com dedicação e esforço, não deixamos a “peteca cair”. Consolidamos o grupo e crescemos, mas não na velocidade caso tu estivesses na liderança. Contigo, a RBS seria maior, se não fosse o absurdo de morreres na flor da idade. Dou um exemplo, contigo não teríamos saído de Santa Catarina. Tu eras um conquistador, um desbravador, um comprador; nunca um vendedor.
Daqui a 400 dias farei 90 anos. E estou aqui, ativo, dando conselhos e opiniões. Na maior parte por meio do Nelson e do meu filho Geraldo (42 anos de RBS). Estou vivo, porém sem alegria de contar com tua presença física que me inundava como pessoa e empresário.
Tive dois mestres que me serviram de guia e que moldaram o meu caráter e personalidade. Ambos partiram precocemente. As primeiras lições sobre verdade, independência e liberdade me foram administradas pelo meu pai, o jornalista Ernesto Corrêa. Foram rápidas e logo adiante dele me afastei, trocando o Diário de Notícias pela RBS. Aproximei-me de ti e recebi lições sobre a vida, no seu sentido mais amplo.
Sem nenhum constrangimento, sinto mais falta de ti, com quem convivi íntima e diariamente por 30 anos. Contigo eu era o teu bacharel (pronto para levar a mensagem a Garcia), companheiro e parceiro. Irmão na real expressão da palavra.
Porra, o tempo passa e eu continuo sedento de ti.
Um beijo saudoso, carinhoso e fraterno.
Fernando Ernesto Corrêa, advogado, empresário e jornalista
Fernando, algumas conversas contigo quando ias de Kobi para Pelotas, para viabilizar a RBS, Jornal, Rádio e Televisão, me deixastes no ponto para enfrentar BRASÍLIA. Quando o Laurent e eu tínhamos alguma dúvida cantávamos a seguinte música: “Vamos telefonar para o Fernando em Porto-Alegre”. Na Rádio Alvorada conquistei minha tríplice capacidade profissional, Rádio, Jornal e Televisão. Brasília passou a ser o meu lugar sem nunca deixar de lado o que a RBS me ensinou.