Eu gosto de falar de amor e de todos os seus ângulos e medidas. Ops, mentira. Não é possível medir amor nem em volume e tampouco a nossa infinita habilidade de senti-lo. A Paula Daudt, minha amiga e psicóloga maravilhosa é dona de me dizer coisas que seguem habitando minha memória. Esses dias, ela comentou no whatsapp: “Amar é capacidade tua, fica contigo. Dentro!”

Precioso, desconcertante, quase cafoninha, o amor não está à venda a quilo no cartão de crédito parcelado em expectativas com juros altos e abusivos em outra pessoa, outro carro, uma viagem incrível ou numa joia nova. O amor nasce na presença. Nem sempre física, mas inteira, reveladora, emocionante. Se fortalece a cada olhar generoso que dirigimos a nós e aos outros. Sobrevive quando entendemos que diálogo só existe com escuta; que é preciso ouvir com atenção outras vozes, sem deixar de colocar no mundo com gentileza o timbre da nossa missão nesse planeta, daquilo que acreditamos e gostamos de fazer… com amor, dom, propósito.

Bell Hooks explica algo, tão simples, mas tããão simples que irrita: “Amor próprio é a base da nossa prática amorosa, sem ele, nossos outros esforços amorosos falham. Quando entendemos o amor como uma vontade de nutrir nosso crescimento espiritual e o de outra pessoa, fica claro que não podemos dizer que amamos se somos nocivos ou abusivos. O amor e o abuso não podem coexistir. Abuso e negligência são por definição opostos a cuidado.”

O que escrever mais depois disso? Quem não ama a si e acolhe as suas e as vulnerabilidades alheias não é capaz de amar ao próximo. Bingo! Autoestima dá trabalho, não se compra no Mercado Livre ou deslizando no Insta. Amar é um exercício diário muito profundo. Exige restrições, pausas, feridas abertas, hábitos saudáveis, mergulhos traumáticos, escolhas nutritivas e construtivas das relações afetivas e do que devoramos aos borbotões pela boca ou pelo cérebro.

Além das ruguinhas a mais e das alterações hormonais de toda a ordem, que chegam com a maturidade, o passar dos anos geralmente também nos presenteia com alguma segurança extra. Uma mansidão reconfortante de que o mundo não vai acabar e os ciclos existem para serem encarados e respeitados. E que no início e no fim de tudo, é quase sempre sobre o amor. Uma existência sem amar e ser amado acaba com nossa saúde e potência vital, assim como um corpo que não consegue transformar gordura em massa magra vai ser cada vez menos saudável e pulsante. Ambos esforços exigem um trabalho multidisciplinar que depende unicamente de uma só pessoa: eu, você que está me lendo e o nosso desejo profundo de transformar.

No programa de saúde integral da Clínica Verte que estou fazendo desde janeiro, um grupo cuidadoso de profissionais de saúde auxilia a encontrar e encurtar os caminhos entre o nosso amor próprio e as suas coragens. Tanto no corpo físico quanto no emocional, não é apenas uma questão de beleza.

Não existe pirlimpimpim. Assim como nosso corpo, que não mente, uma vida sem amor não engana. Nossa mente sim. Essa é capaz de inventar as maiores doideiras e ilusões que servem exclusivamente para atrapalhar nossa evolução na oportunidade que recebemos de existir. Sustentar bons hábitos e atitudes amorosas consigo e com o mundo não é uma receita de bolo, que vai significar e se manifestar da mesma forma para todo mundo. A história, rotina, relações e até escolhas profissionais de cada indivíduo é que devem ser levadas em consideração, não o instagram e dieta da fulana ou a vida “perfeita” da ciclana.

Porque o tema merece que eu peça ajuda, Simone de Beauvoir explica que: “Entre as nossas fraquezas e forças, a coragem é o que nos define.” E ter coragem não é sentir medo, é firmar compromisso inarredável com a vontade de fazer, mudar, ser e sentir. Se para Pablo Picasso “Tudo o que você pode imaginar é real”. Trocando gordura por massa magra ou recebendo a benção de encontrar o grande amor da sua vida, tanto faz a ordem:  um amor puxa o outro. Andiamo…

Mariana Bertolucci

Foto: Carin Mandelli (@carinmandelli.fotografia )

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