Alice Urbim
O último azul, filme de Gabriel Mascaro, é um desafio ao envelhecimento.
É a história de Tereza, uma mulher de 77 anos vivida por Denise Weinberg, que deverá ser transferida à força pelo governo para um retiro compulsório personificado numa colônia habitacional de idosos.
Tereza se rebela contra o sistema para realizar seu último desejo. O roteiro reflete sobre o corpo envelhecido em uma sociedade que oprime e nos enxerga feito produtos descartáveis, como numa prateleira de supermercado,
Hoje, com 71 anos, decidi que não vou alimentar o monstro do etarismo. Não sou a Tereza que embarcou em uma jornada pelos rios da Amazônia, mas desenvolvi novos desejos buscando uma reinvenção de vida.
Em muitos momentos eu senti o descarte, e decidi que tinha que ter um posicionamento sobre o preconceito. Como Tereza, eu digo não ao prazo de validade, onde ser mais velho significa inclusão e não exclusão.
A colônia ficcional de Mascaro foi criada como método de limpeza geracional a partir dos 80 anos, mas o sistema reduziu a idade mínima para 75 anos, obrigando Tereza a ir para o abrigo.
Nunca é tarde para ressignificar a vida, e O Último Azul nos mostra isso através dos últimos dias de liberdade de Tereza que decide embarcar em uma viagem, para realizar o seu sonho, que é viajar de avião.
Vivendo no Brasil como a personagem, sempre veio uma pergunta que me atormentava desde os 50 anos:
– Será que eu tinha que aceitar o envelhecimento como um declínio na segunda metade da vida?
A vontade de viver a vida intensamente, para mim, sempre falou mais alto. É essencial se reinventar sempre, mesmo sabendo que a segunda metade da vida pode não ser tão suportável. O meu propósito é mostrar para todos que os nossos corpos são visíveis, e que podemos construir novas versões de nós mesmos, SEMPRE.
O Último Azul é uma produção brasileira com direção de Gabriel Mascaro e está em cartaz desde o dia 28 de agosto nos cinemas. Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim de 2025