A artista plástica Ita Stockinger apresenta amanhã (15/5) a exposição Uma Metáfora para as Múltiplas Identidades e Sentimentos com vernissage marcada para as 18h30min, na Galeria Stockinger. A mostra apresentará oito pinturas que mergulham nas nuances da identidade humana, explorando camadas emocionais, contrastes e multiplicidades. A exposição integra o Portas para as Artes, iniciativa bacana da 14ª Bienal do Mercosul que busca ampliar o acesso e fomentar o diálogo entre artistas e o público.
Com curadoria de André Venzon — artista visual, curador, mestre em Poéticas Visuais pelo PPGAV/IA-UFRGS e ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS) —, a mostra nasceu de forma íntima e espontânea. Em uma noite comum, assistindo a um documentário sobre um grupo argentino que, há mais de duas décadas, se reúne para ler Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, Ita Stockinger se viu impactada pelo rosto de uma das leitoras: uma senhora de expressividade intensa, com gestos carregados de emoção. “Minha exposição está toda ali”, pensou. Esse rosto passou a ser o centro de sua investigação pictórica — repetido em cada tela, mas sempre transformado por emoções distintas.
Cada pintura é um retrato do mesmo rosto, mas revela uma nova faceta, uma emoção inédita, uma identidade singular. A repetição se transforma em estratégia poética, evocando a multiplicidade do ser. “Não somos um, somos vários ao mesmo tempo”, afirma a artista, ecoando o universo de Proust. Assim, os quadros funcionam como capítulos de uma biografia interna, onde convivem contradições, camadas e complexidades — traços que tornam essa figura profundamente humana e marcante.
Com uma abordagem que oscila entre o expressionismo e a abstração, Ita cria figuras que habitam o limiar entre o belo e o estranho, o lúdico e o trágico. São rostos que provocam identificação e inquietação, construídos com gestos livres e matéria densa. “Pinto o drama do ser e a realidade da existência, oscilando entre o encantamento e o abismo”, afirma. A exposição convida o público a reconhecer-se — ou perder-se — nos olhos desse outro que também nos habita.
A técnica empregada varia conforme a demanda emocional de cada obra. Ita utiliza óleo, acrílica e carvão, permitindo que o material se molde à atmosfera interna do retrato. A paleta de cores e o gesto pictórico surgem de forma intuitiva, sensível ao que cada tela exige. O que marca esta série é a insistência em um único rosto como suporte para investigar infinitas possibilidades de ser — uma repetição que revela diferenças; uma permanência que é movimento.
Nascida em Bagé (RS) e radicada em Porto Alegre, Ita Stockinger é advogada e artista visual. Desenha e pinta desde sempre, mas, nos últimos dez anos, aprofundou sua prática artística ao lado de nomes como Lou Borguetti, Fernando Baril e Charles Watson. Entre 1999 e 2011, atuou como curadora e autora de textos para exposições de grandes artistas brasileiros, como Tomie Ohtake, Danúbio Gonçalves, Regina Silveira, Marcelo Grassmann e Francisco Stockinger — este último, seu sogro, cuja influência artística foi determinante em sua formação.
Ita já realizou exposições individuais no Brasil e na Argentina, e participou de coletivas de destaque em instituições como o Centro Cultural Correios (CCCRJ), a Casa de Cultura Mario Quintana e o Museu de Bento Gonçalves, além de mostras em galerias internacionais na Bélgica, Barcelona, Los Angeles e na cidade do Porto, em Portugal.
Com Uma Metáfora para as Múltiplas Identidades e Sentimentos, que fica em cartaz até o dia 1º de julho, Ita Stockinger reafirma sua crença na arte como linguagem da alma e do indizível — um território onde a imagem não ilustra, mas revela. Onde o rosto do outro pode se tornar, por instantes, o espelho de nós mesmos.
Foto: Nilton Santolin