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Ita Stockinger apresentará na próxima quinta-feira (11/12) a exposição Uma Metáfora para as Múltiplas Identidades e Sentimentos no Palacete Pedro Osório, em Bagé

A artista plástica Ita Stockinger apresentará na próxima quinta-feira (11/12) a exposição Uma Metáfora para as Múltiplas Identidades e Sentimentos com vernissage marcada para as 19h30min, no Palacete Pedro Osório (Rua Tupi, 1436, Bagé). A mostra apresentará oito pinturas que mergulham nas nuances da identidade humana, explorando camadas emocionais, contrastes e multiplicidades.

Com curadoria de André Venzon — artista visual, curador, mestre em Poéticas Visuais pelo PPGAV/IA-UFRGS e ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS) —, a mostra nasceu de forma íntima e espontânea. Em uma noite comum, assistindo a um documentário sobre um grupo argentino que, há mais de duas décadas, se reúne para ler Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, Ita Stockinger se viu impactada pelo rosto de uma das leitoras: uma senhora de expressividade intensa, com gestos carregados de emoção. “Minha exposição está toda ali”, pensou. Esse rosto passou a ser o centro de sua investigação pictórica — repetido em cada tela, mas sempre transformado por emoções distintas.

Cada pintura é um retrato do mesmo rosto, mas revela uma nova faceta, uma emoção inédita, uma identidade singular. A repetição se transforma em estratégia poética, evocando a multiplicidade do ser. “Não somos um, somos vários ao mesmo tempo”, afirma a artista, ecoando o universo de Proust. Assim, os quadros funcionam como capítulos de uma biografia interna, onde convivem contradições, camadas e complexidades — traços que tornam essa figura profundamente humana e marcante.

Com uma abordagem que oscila entre o expressionismo e a abstração, Ita cria figuras que habitam o limiar entre o belo e o estranho, o lúdico e o trágico. São rostos que provocam identificação e inquietação, construídos com gestos livres e matéria densa. “Pinto o drama do ser e a realidade da existência, oscilando entre o encantamento e o abismo”, afirma. A exposição convida o público a reconhecer-se — ou perder-se — nos olhos desse outro que também nos habita.

A técnica empregada varia conforme a demanda emocional de cada obra. Ita utiliza óleo, acrílica e carvão, permitindo que o material se molde à atmosfera interna do retrato. A paleta de cores e o gesto pictórico surgem de forma intuitiva, sensível ao que cada tela exige. O que marca esta série é a insistência em um único rosto como suporte para investigar infinitas possibilidades de ser — uma repetição que revela diferenças; uma permanência que é movimento.

Nascida em Bagé (RS) e radicada em Porto Alegre, Ita Stockinger é advogada e artista visual. Desenha e pinta desde sempre, mas, nos últimos dez anos, aprofundou sua prática artística ao lado de nomes como Lou Borguetti, Fernando Baril e Charles Watson. Entre 1999 e 2011, atuou como curadora e autora de textos para exposições de grandes artistas brasileiros, como Tomie Ohtake, Danúbio Gonçalves, Regina Silveira, Marcelo Grassmann e Francisco Stockinger — este último, seu sogro, cuja influência artística foi determinante em sua formação.

Ita já realizou exposições individuais no Brasil e na Argentina, e participou de coletivas de destaque em instituições como o Centro Cultural Correios (CCCRJ), a Casa de Cultura Mario Quintana e o Museu de Bento Gonçalves, além de mostras em galerias internacionais na Bélgica, Barcelona, Los Angeles e na cidade do Porto, em Portugal.

Com Uma Metáfora para as Múltiplas Identidades e Sentimentos, que fica em cartaz até o dia 30 de janeiro na cidade-natal da artista, Ita Stockinger reafirma sua crença na arte como linguagem da alma e do indizível — um território onde a imagem não ilustra, mas revela. Onde o rosto do outro pode se tornar, por instantes, o espelho de nós mesmos.

Segue abaixo texto do curador

Em busca da criação

Há muito tempo, os artistas buscam na arte uma expressão que a realidade não consegue lhe proporcionar. Fatos, pessoas, histórias e aspectos do cotidiano transformam-se em temas de suas obras. Inspirada por um grupo de leitura de Marcel Proust, que há 18 anos se reúne em um típico café portenho, Ita Stockinger escolheu uma figura feminina marcante desses encontros literários para criar seus oito retratos – um quadro a mais que os sete volumes da obra clássica proustiana, Em Busca do Tempo Perdido – na exposição Uma metáfora e múltiplos sentimentos, exibida no projeto Portas para a Arte, da 14° Bienal do Mercosul, e vem agora seguir sua trajetória de exibições no interior do Rio Grande do Sul, começando por Bagé, terra natal da artista.

A personagem em tela tem pouca participação visual no documentário O Tempo Perdido (2020), dirigido pela argentina María Alvarez, mas captura imediatamente o olhar da artista. Desde o instante em que surge no filme, ela faz uma pergunta que pode ser essencial tanto para a alma do livro quanto para essas pinturas: “Com quem dialoga?”. Este enredo em preto e branco desperta, além do desejo de olhar, a vontade de criar. Assim como no filme e na leitura do livro, a pintura de Ita Stockinger revela, quadro a quadro, como uma espécie de plano sequência, os traços e ângulos da personagem.

Essas obras que vemos na galeria também saíram das páginas de Proust, num ato de dupla poeticidade. Nas telas, o tempo da observação, da lembrança dos gestos da personagem e do próprio tempo, se dilui. A artista busca essa criação, essa necessidade de ir além da superfície das coisas, abrindo perspectivas para o novo por meio de sua pintura da figura do outro e de si mesma – dessa multiplicidade de personalidades rumo ao desconhecido.

Ao representar repetidamente essa mulher em suas obras, Ita Stockinger nos questiona sobre o quanto podemos nos reconhecer nela, nesse encontro frente a frente, nesse “voltar a ver” que a arte constantemente nos propõe. Além disso, ela nos desafia a refletir sobre quanto de sua própria identidade e sentimentos está presente nessas pinturas, revelando uma profunda relação entre a artista, sua obra e o universo que ela convoca.

André Venzon – Curador e gestor cultural

Foto: Nilton Santolin

SERVIÇO

O QUE: Lançamento exposição Uma Metáfora para as Múltiplas Identidades e Sentimentos de Ita Stockinger

QUANDO: Dia 10 de dezembro (quarta-feira) às 19h30min

ONDE: Palacete Pedro Osório – Rua Tupi Silveira, 1436 – Bagé  

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