Semana passada eu saí da aula de yoga e me meti numa conversa de dois colegas que estavam na área externa da sala. Era sobre o novo formato da 14ª edição do Fronteiras do Pensamento, que aliás foi fantástica, e o Felipe Pimentel, que é o dindo coletivo das minhas sobrinhas, além de um dos curadores, merece os parabéns! Voltemos. Me despedi para seguir o dia, quando a colega disse: “Tu é aquela que se estica toda? E por que tu te estica tanto, hein?” Respondi rindo, meio tímida, meio orgulhosa: “Sou eu. Fiz ballet quase toda a vida e pratico yoga há alguns anos”. O interlocutor da conversa completou: “É porque ela é exibida. Mas ela pode.”
Fiquei meio sem jeito na hora, mas no fundo eu gostei de tudo: de me meter na conversa (minha especialidade), de ser chamada de esticadinha (eu treinei e desejei isso por anos) e até de ser chamada de exibida. Não faço mais que a minha obrigação de colocar em prática minha consciência corporal (estranho seria se ela não existisse depois de quase meio século…) não é o que costumamos escutar por aí? Entrei na FAMECOS em 1990 e foi quando a dança perdeu espaço (jamais seu lugar cativo dentro de mim) e o jornalismo e a escrita transformaram-se no alvo da minha obsessão. Aos 20 anos, minhas únicas duas certezas eram que eu seria mãe de uma mulher e que queria aprender a contar histórias que mudassem a vida das pessoas e a minha própria.
Faz 30 anos que eu escrevo, trabalho com comunicação e tento evoluir e me divertir nos intervalos. Há quase 20 também sou mãe da Antônia e desde sempre convivo com questões comuns a qualquer pessoa: tenho problemas de autoestima, sofro com procrastinações no meu processo criativo e profissional, tenho comportamentos e momentos de ansiedade e compulsão que sempre me levam para o pior lugar de mim mesma que só eu conheço como ninguém. Também aprendi nessas três décadas de mais pura emoção da vida adulta que nada é mais importante do que fazer. Fazer!!! Propaganda da Nike e do Obama ao mesmo tempo: Just do It! Yes, You Can! Sem parar! De preferência fazer direito, com ética e capricho. Mas se não der para ser assim, (tirando a ética que é imprescindível) fazer igual. Sem vergonha, preguiça, timidez ou constrangimento. Só que para isso é preciso ser/estar segura, íntegra física, moral e emocionalmente. O que anda cada vez mais raro hoje em dia e é por isso que tem tanta gente reclamando da vida, sem nada melhor para fazer do que ficar doente com o celular na mão cuidando da desgraça e dos sonhos dos outros.
E quando tudo parece que (de novo) vai dar errado (mais uma vez), a gente dorme, agradece o fato de acordar novamente, vai lá e repete a vida que nem no Ashtanga, sem pressa, com medos, barreiras, frustrações, dores físicas e internas, mas sem pausar um só minuto. Sabe por que? Porque a gente não tem tempo suficiente pra ficar pensando na vida em vez de viver a vida que mora no nosso pensamento. Igualzinho avançar no yoga, manter-se ágil e em movimento com a dança, a arte, o corpo, o trabalho, o casamento e a relação com os seus familiares… Ao invés de pensar que você e eu não somos nem sombra o que éramos há 20 anos, quando íamos todos jovens aos shows do Caetano, Alemão Ronaldo e do Charles Master, evoluir é provar para si que TCHARAMMMMMMM: o legal da vida é justamente fazer ao contrário, Benjamin Button Style.
Embora esse texto comece falando da minha flexibilidade corporal na aula de yoga que chamou atenção da colega, não é só sobre performar. E sim sobre destruir todas as certezas e os rótulos que diminuem a nossa potência vital e vontade de fazer coisas bacanas para si e para o planeta. Entre os meus defeitos, tenho uma dupla qualidade que me ajuda todos os dias: sou uma otimista incurável, quase ingênua e uma eterna tentante. Ir até o fim de tudo sempre (beeem dramática e canceriana) acaba sendo mais forte que eu mesma sou capaz de ser. Por isso que recentemente tentei aprender dança contemporânea (acabei de desistir, mas tô pensando em atacar de jazz, cansada do clássico), voltei para faculdade, não pintei o cabelo de azul, mas amo cada dia mais aprender e o meu piercing do umbigo.
Há quase 15 anos recebi um convite inesperado pra fazer um ensaio de fotos diferente com o Julio Cordeiro, meu amigo até hoje e colega da redação. Topei quase na hora. Quem não toparia ficar diante das lentes de um dos fotógrafos mais talentosos da minha geração? Um monte de gente! O tema empoderamento feminino pela autoestima e a arte da fotografia estava em alta porque a Natália do Valle interpretava uma fotógrafa de ensaios femininos na novela das oito. Em 2009, por incrível que pareça feminismo ainda não fazia parte da pauta da família brasileira. Pouco tocávamos nesse assunto, que nem tinha sido apelidado de mimimi. Para aproveitar a empreitada, viramos capa do Donna é claro, como quase tudo que a gente inventava naquela época em que o jornalismo e as boas histórias saiam única e exclusivamente de dentro das nossas cabeças. Pois bem, nostalgias à parte, não me convidando para me atirar de bungee jump, nunca mais parei de experimentar caminhos do autoconhecimento e desafios profissionais de todo o tipo. Gosto de kumbucha e de vinho branco, Carnaval e literatura. Centro espírita e o conclave do Papa. Retiro de yoga e boteco pé sujo. Constelação familiar, tantra, chakras, samba, rock, sou muito pop…
Fiz uma coleção de cagadas pelo caminho porque me distraio com muitas coisas, tenho fraquezas, afobações ou por pura inexperiência mesmo. Mas o trajeto de volta nunca foi uma barreira e a sorte e o privilégio sempre foram bons companheiros para conseguir recomeçar.
A semana passada foi intensa. Fora quase 24 horas de estrada no lombo entre Gramado, Porto Alegre e Uruguaiana, lançamento de mais dois livros pela Bá Editora/Araucária, (que orgulho!) com o meu parceiro Antônio Luzzato. Não bastasse a alegria de lançar um livro sobre benzedeiras e outro sobre Kabala na memsa semana, fui uma das três modelos de um ensaio com um coletivo de fotógrafos numa saída livre e experimental conduzida e recebida por dois talentosos casais de amigos Heloísa Medeiros e Maurício Cappelari no Buraco da Lua da Vivian Schäfer e do Rene Goya. Se eu morri de medo de estar cansada, não cumprir as expectativas, ficar feia, tímida, de cabelo branco, unhas por fazer e psoríases à mostra? Claro que sim. Mas fui igual e foi uma das coisas mais legais e desafiadoras que eu já fiz. Feito é melhor que perfeito.
Então termina de me ler aqui e faz o que está aos berros aí dentro de você louca para sair. Conta a tua história em um livro ou no Instagram (me chama no whats pra gente falar sobre isso que a Bá Editora e a Bá Digital/Estúdio Telescópio com o Rodrigo Gruner e o Diogo Zanella, estão cada vez mais ninjas). Aprende algo novo, escreve um poema, um bilhete de amor ou um pedido de desculpas, a ti inclusive. Volta a estudar, faz fotos, trajetos e coisas diferentes, lê, ouve, dança, grita e chora mais um pouco.
E se você é mulher, se liga nesse recadinho: permita-se ser mais naturalmente selvagem e intuitiva em todas as camadas do seu corpo e da sua vida. Não seja mais uma pessoa a te apagar do planeta. Já basta o que precisaremos reparar ao lado das nossas filhas e netas daqui para frente. Percebe teus silêncios e excessos, não os excessos e silêncios que te impuseram a vida inteira. Freia os TEUS pensamentos ruins e neuroses antigas, você não tem obrigação nenhuma de aguentar a dos outros. Não permita nunca que te coloquem no teu lugar. Nosso lugar quem decide ocupar somos nós e mais ninguém e dale Marina Silva! Evita o que te faz mal, a essa altura do campeonato, simmmm, já sabemos o que é… Procura praticar e estudar o yoga, se você pensa há anos que é o que vai salvar a tua vida. Vai mesmo! Te garanto e vou até assinar embaixo desse texto. Acho que o meu colega de academia tem toda a razão. Devo ser mesmo exibida…e sem vergonha: Graças as Deusas!
Mariana Bertolucci
Foto Heloisa Medeiros
Lindo e franco texto. Parabéns! Adoro te ler! Bjs
Tu és muito showww, amei teu texto, todas as mulheres deveriam se “jogar” em muitas experiencias , isto é que embeleza uma pessoa! Dale Mariana!!👏👏👏👏👏
MARAVILHOSO!!!!! MUITO MARAVILHOSO!!!! sou Bá com muito orgulho e reverencio a minha editora yoggi, canceriana, criativa, intuitiva e.inteligente!
Maravilhosa! Talvez, o teu texto que mais tenha me tocado. Tem uma frase ali que bateu forte (depois te conto).
Foi um deleite me dedicar ao seu texto! Apaixonante, simples e verdadeiro! Mari, mulher guerreira e contagiante! Amei!
“Não é só sobre performar. E sim sobre destruir todas as certezas e os rótulos que diminuem a nossa potência vital e vontade de fazer coisas bacanas para si e para o planeta” Te admiro, amiga! Obrigada pelo texto.
Que coisa bem bom te ler mulher! Melhor ainda ter participado de um sábado solto e feliz contigo e falta gente boa. Tão bom que chegou o dia de ficarmos pertinho se conhecendo mais, tão bom saber destas tuas palavras bem cancerianas. Oxalá logo logo possamos ter novos momentos assim!
MARAVILHOSA!!!