Em homenagem ao Dia dos Avós, comemorado em 26 de julho, dedico esta crônica à vó Regina — uma avó inspiradora, doce e cheia de vida, como todos os avós merecem ser lembrados.
Quando eu for avó, gostaria de ser como a vó do João Pedro — aluno da minha escola, de 4 anos e meio. Sua avó se chama Regina.
A vó Regina é uma doçura de avó. Eu a conheço há cerca de quatro anos. Não nos vemos todos os dias, mas com frequência. Nas datas comemorativas, principalmente: Páscoa, Dia dos Professores, Natal… Ela sempre aparece. E aparece com ajuda, porque traz tantas sacolas cheias de doces que não dá conta sozinha. Doces feitos pelas mãos dela. E os doces da Regina têm o gosto das suas mãos.
Falando em mãos, as da Regina são lindas. Ela tem unhas alongadas, sempre bem pintadas, em cores vibrantes.
Quando chego em casa com as caixinhas de presente, meus filhos já sabem: são os doces da vó do JP. E vibram com os docinhos.
Regina é professora. Hoje está aposentada, mas — como bem sabemos — uma vez professora, sempre professora. Ela ensina por onde passa, com sua simpatia, gentileza e simplicidade. Regina é um luxo de pessoa.
Outro dia, num feriadão, ela passou rapidamente pela escola. Por coincidência, eu estava saindo. Ela me chamou e pediu que entregasse ao neto dois brinquedinhos. Me disse, de dentro do carro:
— Sabe, Valesca, eu até não gosto muito desse lanche, mas como ele estava na escola, fui na lancheria, comi dois sanduíches e trouxe os brindes pra ele.
E acrescentou:
— Agora vou pegar a freeway e ir pra Imbé (praia do litoral do RS), porque não gosto de engarrafamentos.
Voltei para dentro da escola e entreguei os brinquedos ao João. Ele me olhou, deu um baita sorriso e guardou os bonequinhos nas mãos. Não resisti e perguntei:
— João, o que você mais gosta da sua avó?
— Qual vó? Porque cada um dos meus pais tem uma mãe.
Entre risos, devolvi:
— Hoje eu queria saber da vó que é mãe da tua mãe.
— Ah, tá! — disse ele. — Eu gosto de comer o milho que a vó Regina faz.
— Por quê?
— Porque ela cozinha, depois tira os grãos pra mim e eu como com colher. Ela também me conta histórias, brinca de avião comigo, essas coisas…
— E a vó Regina é professora de quê? Você sabe?
— Acho que de matemática — respondeu ele —, porque ela faz bem as contas.
Pensei: guri sortudo esse, que tem uma vó assim.
Outro dia, ela trouxe o neto à escola e, na saída, elogiou para a Michele — nossa porteira e professora da horta — o pé de limão siciliano que temos no pátio da frente. Da minha sala, que fica perto, escutei o papo das duas e fui lá levar uns limões de presente para ela. Quando lhe entreguei três, ela disse:
— Chega um, guria!
E eu retruquei:
— Que nada, Regina. Mereces todos os limões do nosso limoeiro.
Ela me olhou, sorriu, e disse:
— Diante disso, vou fazer uma caipirinha.
Talvez eu tenha que vir em outra vida para ter essa fruição da Regina. Quando apanho um limão do limoeiro da escola, penso em espremê-lo e tomar uma água com limão. Não passa pela minha cabeça fazer uma caipirinha.
Antes de terminar essa coluna, mostrei para a Luciana, filha da Regina e mãe do João Pedro. Ela, orgulhosa da mãe que tem, acrescentou: “Valesca, não sei se você sabe, mas a minha mãe tem uma banda, ela é percussionista”.
Para ser como a Regina, ainda tenho muita estrada para trilhar.
Valesca Karsten
Educadora, diretora da Escola de Educação Infantil Caracol de Porto Alegre.
Curadora de arte para a infância e realizadora do Podcast PodeMãe.
@valesca.karsten
Que texto mais lindo, digno da autora e da homenageada!