Recém-chegada a Paris, já respiro os ares da realeza. Os Tronos dos Luíses, XIV, XV, XVI, a Corte, a rainha, a amante, a predileta, banhados de luxo e ostentação. Nesta linhagem, a rainha Maria Antonieta, tão polêmica, quanto adulada, retorna, uma vez mais, à cena fashion. A “deusa do rococó”, assim chamada por Stefan Zweig, aguça o olhar atento dos estilistas e volta a posar de vedete nas vitrines.

A moda, como expressão da cultura, evolui, torna, retorna, contorna. Dá voltas, reviravoltas, rodopia, sobe na passarela e vai atraindo a atenção dos fashionistes de todas as idades, etnias, grupos e afins.

Assim é que, no curso da história, Maria Antonieta é reconhecida como a primeira influencer de moda, a primeira soberana a lançar tendências que seriam seguidas em todas as Cortes da Europa.

Passados dois séculos, seu estilo volta a reinar, não só nos corredores da haute-couture, mas também no prêt-a-porter e nas silhuetas que circulam nas redes sociais, nos salões, nas avenidas.

A primavera parisiense 2025 chega real e aristocrata. Muito brocado, muito bordado, nacaradas, canutilhos, ouro, prata, plumas em profusão. Certamente, a exposição no Museu do Louvre – Objetos de Arte, Objetos de Moda, a exposição no Museu Branly – O Fio de Ouro no Vestuário através dos Tempos e a exibição da série de televisão sobre a vida de Maria Antonieta, uma produção franco-britânica, criada em 2022, já em nova temporada, contribuem para enriquecer o imaginário dos estilistas; é o que se vê nas mais recentes coleções primavera-verão.

Na internet, o site Pinterest anuncia, como tendência para 2025, a estética do rococó, rendas, bordados, grandes laços nas camisas, acessórios em pérolas, numa vibe de extrema feminilidade.

No cinema, Sofia Coppola transmutou a Rainha em figura pop, moderna, ousada, onde a atriz dinamarquesa Kirsten Dunst encarnou Maria Antonieta, com um guarda-roupa de dar inveja, uma sucessão de vestidos coloridos em tons pastéis, azul céu, verde amêndoa, rosa pálido, inspirados nos tons dos macarrons da famosa Maison Ladurée. Do scarpin em cetim aos penteados XXL, mostrou luxo e exuberância.

Na passarela, o estilista Jacquemus, queridinho dos franceses, em desfile antológico (2023), realizado às margens do Grande Canal do Palácio de Versailles, mostrou vestidos fluidos, vaporosos, florais ao lado de silhuetas extravagantes, em franca adesão ao estilo Maria Antonieta. Nos desfiles de 2025, assistimos a um sortilégio de referências históricas ligadas à imagem da ‘Rainha Cult’, nos corseletes, nas mangas ultra volumosas, nos vestidos fartos, nas saias armadas, nos tecidos ricos, seguindo a trilha do espírito tão em voga nos salões do Petit Trianon, no século XVIII.

Pelas ruas, vê-se a nova geração aderindo ao Queen style; uma atração pelo estilo real, uma tendência ao excesso, uma lufada contrária à simplicidade do jogging, uma oposição ao minimalismo de ontem. A onda agora, na época do selfie estampado nas redes sociais, é aparecer bela, bem vestida, maquiada, blush, batom e cílios. O momento é de retorno à feminilidade, faces rosadas, lábios desenhados, olhos delineados.

Neste contexto, em Londres, a rainha será tema da maior exposição a ela consagrada. O Victoria and Albert Museum, na exposição Marie Antoinette Style, patrocinada pelo criador Manolo Blahnik, vai mostrar, a partir de setembro de 2025, as origens e as incontáveis inspirações do estilo criado pela rainha mais copiada da história no quesito moda. Maria Antonieta é admirada na Inglaterra por sua imagem chic e irreverente, porquanto, em contraponto às plumas, rendas e volumes, cohabitava, no dressing da soberana, um vestido de algodão alvo, leve e esvoaçante que usava vestir no seu recanto secreto, seu refúgio na natureza, um espaço a si reservado, uma fazendola, nos imensos domínios de Versailles. Maria Antonieta, ademais do tesouro em jóias, diamantes e rubis, guardava em si, um tesouro interior, delicado e frágil, que aos súditos não foi dado revelar, impunha-se-lhe a máscara de rainha, aos 14 anos!!!

O fato é que seu estilo único, flutuante, do luxo extremo à simplicidade despojada, fez dela um símbolo de liberdade, de delicadeza, mas também de ousadia. A imagem de Maria Antonieta exala uma aura de feminilidade audaciosa e provocadora, resiliente, capaz de enfrentar a queda da monarquia com bravura; mesmo diante de sua sentença de morte, cuja legitimidade ainda hoje é questionada, manteve a fleuma real, digna, inquebrável, o que a torna inesquecível e eterna.

Porque a elegância, para além do vestir, está no andar, no levar, no modo, na pose, no traço de caráter, na personalidade. Daí a razão para que os estilistas, passa ano, passa século, numa leitura e releitura de estilo, voltem a buscar inspiração na figura real, a exemplo de Galliano, Marc Jacobs, Lagerfeld e, recentemente, Alessandro Michele, na sua última coleção alta costura para Maison Valentino.

A princesa veio da Austria, a exposição será na Inglaterra mas a rainha é francesa. Maria Antonieta – Rainha de França, como será eternamente conhecida, segue, entre leques e plumas, soprando ventos de inspiração.

Maria Alice Ripoll, Paris, maio de 2025

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  1. Margarita Ripoll says:

    Interessante, muita novidade pra mim sobre moda e estilo! E a Rainha Maria Antonieta é eterna…
    Parabéns querida prima Maria Alice!

  2. Hilda Regina Silveira Albandes de Souza says:

    Malice. amiga querida, amei a crônica. Aula magistral de história e registro memorável da eterna Maria Antonieta, ainda ditando estilo e feminilidade em pleno seculo de horrores em que vivemos. Maravilha!!!!!

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