Em abril deste ano, março, talvez, no Programa Persona, da TV Cultura @tvcultura, comandado pelos jornalistas Atilio Bari @atiliobari e Chris Maksud @chrismaksud*, a cena foi ocupada por Antonio Peticov @apeticov. O artista, com destreza, sabedoria e bom humor, levou o telespectador a submergir nas formas da geometria, nos símbolos da matemática e na intensidade das cores. Me fez lembrar que elas, as cores, não são todas visualizadas pelo olho humano, restrita, nossa visão, às cores do espectro solar; somos cegos ao ultra violeta e ao infravermelho, o que está além do violeta e aquém do vermelho, nossa retina não alcança.
Fiquei a pensar; pensando fiquei e me danei a escrever sobre outros temas. Peticov, contudo, entre idas e vindas, tal um sussurro no ouvido, voltava às minhas reflexões.
O nome dele é Antonio, o sobrenome, Peticov. Com esse sobrenome búlgaro, de onde ele é? É nosso. Do Brasil. Antonio Peticov é pintor, escritor, escultor, gravurista, tem incursões pelo mundo da música e é matemático. Nasceu em 2 de julho de 1946, na cidade de Assis, São Paulo. Muitos já o admiram, apreciadores de sua obra que reflete a luz, filtrada através das sete cores do arco-íris. Poucos, quem sabe, sequer ouviram falar do magnífico artista que se sente, razão não se lhe retira, um pouco negligenciado no cenário artístico nacional.
Assim é que decidi, nesta crônica, convidar o leitor a mergulhar na genialidade da obra deste artista multicultural que mescla física e arte. Entre andanças pela Europa e Estados Unidos, Peticov retornou ao Brasil em 1999, porque, como diz o próprio, apesar das desídias, indiferenças e traições da pátria amada, no seu País, ele se sente em casa. Seu habitat é o Brasil.
Autodidata, aos 12 anos, Antonio Peticov decidiu que sua vida seria no mundo das artes. Aos 15 anos só lhe interessavam exposições e galerias de arte. Alcançou renome mundial a partir de pesquisas pessoais em história da arte, geometria, matemática, ilusionismo e fenômenos da natureza. Não bastasse esse aprofundamento científico, paralelamente, participou ativamente de movimentos artísticos de vanguarda da década de 60, a exemplo do Tropicalismo. Foi amigo de Rita Lee, e personagem fundamental na criação da banda ‘Os Mutantes”. Fato curioso, como relata o artista, por meio de um ‘elo cósmico’, tornou-se um dos melhores amigos de Baby do Brasil. Conta que a cantora, ao desembarcar na rodoviária de São Paulo, em 1969, sem eira nem beira, para tentar a carreira artística, avistou um grupo de ‘hippies chiques”, dentre eles, Peticov. No magnetismo de um olhar trocado, o artista perguntou a Baby onde ela morava, ao que se seguiu a reposta direta “eu não Moro”. Peticov lhe entregou a chave de sua casa – ‘agora você mora comigo’. Conexão entre artistas. A amizade perdura até hoje.
Em 1970 foi morar em Londres; em 1971, foi para a Itália, onde ficou 14 anos. Em 1986, mudou-se para os Estados Unidos, foi morar em Nova York. Em 1999, após 13 anos em território americano, volta a viver no Brasil, em São Paulo, onde segue trabalhando, participando de lives e produções visuais sobre temas que embasam sua obra, a fusão entre a arte e a matemática, a natureza e a ciência.
Peticov inclui-se no seleto hemisfério dos gênios da matemática – é o único artista plástico a circular no “Gathering for Gardner” – G4G, grupo criado em Atlanta – USA, que se reúne periódicamente para discussões em torno da Matemática.
Ao longo de sua carreira artística, espalhou obras pelo mundo afora com murais na Itália, Suiça e Estados Unidos. Em 1983, instala, na cidade de Nova York, uma de suas criações mais conhecidas, “The Big Ladder”, em frente ao Coliseum. Ainda em Nova York, ao lado da atriz Brookie Shields, lança o poster de inauguração do ‘Jacob Javits Convention Center’.
No Brasil, trabalhos de porte estão no meio do povo, no passa, passará dos milhares de usuários do transporte público paulista. Em lugares de intensa circulação, no vai e vém das multidões que se deslocam nos subterrâneos da maior metrópole da América do Sul, a cidade de São Paulo, obras da Peticov ornam os cruzamentos das linhas do metrô.
Na estação República, acha-se o impactante mural denominado “Momento Antropofágico com Oswald de Andrade”, inaugurado em 1990.
Em 1995, entregou à cidade a “Torre Transbuti” e outros três murais, instalados na estação Santo Amaro do metrô paulista.
Na multiplicidade de suas criações, destaco, por gosto pessoal, a tapeçaria “In Fondo Al Mare” (1,42 x 1,30), composta por elementos marinhos criados a partir de figuras geométricas como o ponto, a linha, o triângulo, o círculo, o pentágono e o hexágono. Bordada à mão pelo projeto social 1+1 by Kamy, sob coordenação da artista visual Elisa Lobos, a peça encanta pela suavidade das formas, colorido vibrante e harmonia do conjunto, lindo, lindo e lindo!
Aos 79 anos, Peticov segue sua vocação pelo mundo da arte contemporânea, inovando, ensinando, compartilhando seu saber científico e sua visão artística do universo. Entre 2003 e 2007, presidiu a Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil. Entre 1999 e 2006, fundou e dirigiu o NAC – Núcleo de Arte Contemporânea. Em 2016, aos 70 anos, inaugurou o Instituto de Arte e Cultura Antonio Peticov.
Centrado nas sete cores do arco-íris, do violeta – espiritualidade, ao vermelho, – matéria, passa pelo azul, anil, verde, laranja e amarelo, vinculando estas cores às múltiplas formas geométricas, no que resulta um trabalho fascinante. Ao transitar por temas como a natureza, a geometria, a matéria e a espiritualidade, sua obra incita à contemplação e à reflexão acerca da estrutura, da base e da harmonia do universo no qual estamos imersos enquanto elementos vivos em eterna mutação.
Sua arte transcende, transporta a fenômenos físicos, naturais, sobrenaturais, perpassa o concreto, o tangível e nos alça, através do espiral das cores, ao abstrato, à espiritualidade, da essência à consciência, do finito ao infinito. Vai aqui o meu tributo. Por mim, não se sinta traído, omitido ou esquecido. Essa homenagem eu devia a Peticov. O extrato de sua obra, eu tinha de escrevê-la, descrevê-la, compartilhá-la. Tamanha genialidade, tanta inteligência a serviço da arte e da ciência há de ser cantada e decantada. A riquíssima trajetória de um artista brasileiro, vivo, original, produtivo tem de estar em constante iluminação, sob o foco dos holofotes.
Calha trazer a lume uma ideia presente na Bíblia, incorporada na filosofia e que se perpetua na obra pictórica de Peticov, “Cuidado com a Escuridão, pois tudo está na luz”.
Maria Alice Ripoll, Porto Alegre, dezembro de 2025

Adorei
Muito prazer Antonio Peticov
A tua sensibilidade transforma a trajetória do artista em uma Crônica envolvente e com significado.
Dá gosto de ler
Parabéns minha amiga escritora.
Obrigada! ❤️💙💚🧡
Amiga querida, és uma talentosa escritora e como tal nos instiga a conhecer a obra deste artista Antônio Peticov! Sua obra a descreves com muita sensibilidade e riqueza de argumentos… Te envio o meu abraço, minha admiração e meu aplauso, adorei!
Que maravilha! Você é espetacular! Com carinho digo:” muito prazer em conhecer Antônio Peticov” aliás que apresentação !!!!! Se queria homenagea-lo o fez com muito requinte! Rico em detalhes! Mergulhei e adorei! Com certeza farei buscas de suas obras artísticas!
Parabéns!!!
Obrigada minha cara amiga! Bjssss! ❣️🫠🌈
Sheila querida, tuas palavras carregadas de afeto me tocam o coração!!!
Lindo tributo! Tua pena ilustrada e ilustrante conduz teu leitor ao universo labirintico e multifuncional da vida e obra do artista. Louca para ir a São Paulo, e agora devidamente habilitada por ti, conhecer Antonio Peticov.
Obrigada! ❤️💙💚🧡🌈
Não conhecia Antonio Peticov, agora o conheço. E de uma forma colorida, cheia de ritmo, harmonia e movimento! A forma como colocas as palavras, a arte de fazer sentir e perceber muito além do concreto. Poesia.
Félicitations, chère cousine!
Merci ma chère cousine! ❤️🩷🧡💚💙🌈 Joyeux Noel!
Que linda crônica e que linda homenagem, Maria Alice!
Para os que já conhecem e para aqueles que estão descobrindo a obra de Peticov a beleza se torna ainda maior com a influência das tuas palavras. Parabéns!
Merci ma chère Fernanda Volt. Sempre enriquecendo a minha escrita com teus comentários. Bjssss! 🌈
Que crônica interessante e instigante!
Pois levou-me a querer conhecê-lo… Fui pesquisar!
A arte do Antônio impressiona pela clareza e pela força.
E é brasileiro!
É incrível como formas tão precisas conseguem transmitir tanta sensibilidade. Suas obras prendem o olhar, acalmam e provocam ao mesmo tempo. Dá para sentir que há muito pensamento, mas tudo chega de forma leve, fluida e extremamente bela.
É uma arte que conversa com a gente.
Agradecida, Maria Alice por me apresentar um artista como ele.
Maria Antonieta , percebo tua tamanha sensibilidade e sabedoria para captar a magia e a beleza da obra de Peticov. Fico feliz por ter te apresentado a este grande artista. !! 💙💚🧡🩷❤️🌈