Neste mês em que comemoramos o Dia do Professor, minha homenagem vai para todas e todos que, como artistas, criam sentidos, constroem memórias e transformam vidas todos os dias.
Não pensem que a pergunta incômoda — “O que você vai ser quando crescer?” — é coisa de hoje. Quando eu era criança, já a faziam para mim. Pequena, respondia envergonhada: “Não sei.” Mais crescida, arriscava: “Não sei o que vou ser, mas professora eu não quero ser.” Pois é: a vida adora dar voltas. Hoje sou educadora, e esse texto é sobre as professoras, os professores.
Minha mãe foi alfabetizadora e depois professora do Ensino Médio. Nos anos 60, quando nasci, a maioria das mulheres que queriam trabalhar fora eram professoras. Cresci frequentando escolas municipais e estaduais, e minha mãe, sempre que podia, me levava com ela.
Para quem cresceu ouvindo os bastidores dessa profissão, como eu, surgiam muitas perguntas: por que minha mãe saía ainda de madrugada para dar aula? Por que não almoçava em casa comigo? Por que não podia me buscar na escola ou ir aos aniversários dos meus colegas como as outras mães? E nas férias… por que estava sempre estudando, às vezes em outras cidades? Entende agora por que eu dizia que não queria ser professora?
Mas a vida me surpreendeu. Quando fui mãe, muito jovem, quis criar meu filho perto de mim. Minha mãe, quase se aposentando como professora do Estado, não queria parar de trabalhar. Foi então que abrimos juntas a nossa Escola. Ela continuou ativa, eu tinha meu filho por perto, e, pouco a pouco, me apaixonei por esse ofício. O tempo foi passando, me formei em Pedagogia, depois em Artes, mas foi no chão da escola, convivendo com gente pequena, média e grande, que aprendi — e sigo aprendendo — todos os dias.
Sempre comparei o papel do professor ao do artista. Ambos criam novos sentidos. Lembro de Leonardo da Vinci e também do professor Leonardo Martins, colega da minha mãe e, além de professor, era artista plástico. Muitas capas dos meus cadernos foram desenhadas por ele. Sua filha, Luciane, minha colega de escola, raramente me emprestava as canetinhas coloridas que eu tanto admirava. Hoje, ela é minha dentista e rimos juntas quando recordamos essa história.
Talvez a primeira arte que apresentamos às crianças na escola seja a arte de conviver com as outras crianças. Para que isso aconteça, são necessárias professoras comprometidas, empáticas e sensíveis. Observem as crianças, elas “sacam” quando encontram professoras assim, não precisa de muito tempo.
Aqui deixo um conselho aos pais: se querem garantir que seus filhos ouçam boas histórias, brinquem muito, tenham contato com a natureza, com arte e criatividade, escolham escolas com professoras qualificadas, amorosas e que gostem de brincar. Esses tesouros humanos existem, e são eles que, junto com a família, mostram o que significa ser humano neste mundo.
São as professoras, assim como as mães, que sabem o quanto as crianças pequenas são dependentes, mas também quando é hora de dar asas à imaginação e à autonomia. É no faz de conta que elas crescem — por dentro e por fora.
E me diga: quem não guarda, dentro de si, a memória afetiva de um amor preservado por uma professora ou professor que marcou sua vida?
Neste Dia do Professor, minha homenagem vai para todas e todos que, como artistas, criam sentidos, constroem memórias e transformam vidas todos os dias.
Valesca Karsten
Curadora de arte para a infância e realizadora do podcast PodeMãe.Valesca Karsten é educadora, fundadora e diretora da Escola de Educação Infantil Caracol, em Porto Alegre, curadora de arte para a infância e realizadora do podcast PodeMãe.
@valesca.karsten